Chegados ao final de mais um ano, os aficionados pelas artes
circenses ficaram mais uma vez de olhos postos em Monchique, que voltou a acolher,
ao longo de quatro dias, uma inesquecível e fantástica celebração de circo como
ele deverá ser nos tempos modernos, sem os constantes números de animais que
poucas ou nenhumas novidades já conseguem trazer, ou as tradicionais
«patetices» dos palhaços e os truques de ilusionismo que há muito deixaram de
encantar uma nova geração habituada à internet, às consolas de jogos e a mil e
uma outras ofertas de lazer. Isso não significa que «Saison de Cirque – As
Estações do Circo» não seja divertido, antes pelo contrário, é um constante
pagode do princípio ao fim do espetáculo, mas um divertimento que não é nonsense, demasiado ridículo, pois retrata,
afinal de contas, as peripécias, dentro da arena e nos bastidores, da vida do «Cirque
Aïtal», o projeto de um casal unido na vida e na arte.
Na génese da produção estão o gigante francês Victor Cathala
e a pequena finlandesa Kati Pikkarainen, que nesta nova cocriação itinerante
para chapiteaux absorveram e
integraram o coletivo de acrobatas siberianos de barra russa «Kanakov», o
acrobata equestre Ludovic Baladin – sim, afinal temos um número com animais, o
malabarista sueco-finlandês Matias Salmenaho e o quarteto de músicos «Streetswing
Orchestra», que produzem uma extraordinária e empolgante banda sonora ao vivo.
E toda a ação se desenrola no interior de uma grande tenda de
circo instalada no Heliporto de Monchique, com chão de terra batida, onde
acontecem os números acrobáticos de barra russa, o equilíbrio mão-a-mão e
com cavalos, os malabarismos e muitas correrias desenfreadas.
«Saison de Cirque» é um espetáculo
de circo híbrido onde se mesclam diferentes linguagens e universos
circenses, que se intersectam numa atmosfera ligeiramente burlesca, viva
e inebriante que arranca imensas palmas e ininterruptas gargalhadas do
público. Porque, à medida que os números vão decorrendo na arena também se vai
assistindo às peripécias que têm lugar nos bastidores, à vista de todos. E ao
permanente desespero de Victor Cathala a tentar explicar ao acrobata equestre e
ao malabarista como devem fazer os seus números com mais charme e glamour de modo a entusiasmar ainda mais
o público, mas também para tentar controlar Kati Pikkarainen, que umas vezes
quer ser a protagonista à força dos números dos seus colegas de profissão,
noutras tenta fugir desesperadamente aos números que ela supostamente deve
executar.
O frenesim é constante, o ritmo é alucinante e quase nem se
dá pelo passar do tempo porque, de facto, não há tempos mortos neste
espetáculo, com todos os preparativos a acontecerem em tempo real e de forma
atabalhoada, já que os artistas não se entendem com uma entrada da arena que é rotativa.
Por isso, várias vezes entravam pela plateia adentro, sentavam-se ao colo de
quem estava nas primeiras filas, enfim, um reboliço sem fim que, como é
natural, mais gargalhadas despoletava em miúdos e graúdos. Uma paródia com
constante gritos e raspanetes numa língua que ninguém percebia e que tornava
tudo ainda mais hilariante… e mágico para os pequenotes, sempre a perguntar aos
pais o que os artistas estavam a dizer, ou como é que tinham feito isto ou
aquilo.
«Saison de Cirque» foi, então, um excelente espetáculo de
circo, com números de uma graciosidade e grandiosidade ao alcance de muito
poucos artistas, e chegou a Monchique mais uma vez integrado no ciclo «Lavrar o
Mar», projeto inserido no Programa «365 Algarve» e apoiado pelo CRESC Algarve
2020, Direção Geral das Artes e Municípios de Aljezur e Monchique.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina/Algarve
Informativo®
Leia a reportagem completa em:
https://issuu.com/danielpina1975/docs/algarve_informativo__185
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