Já perdi a conta aos concertos de Aurea que assisti desde
que a cantora embarcou numa carreira musical de grande sucesso e que tantas
alegrias tem dado aos seus conterrâneos algarvios. Mas confesso que a noite de
1 de fevereiro, no Auditório Municipal Carlos do Carmo, em Lagoa, me encheu as
medidas como nunca antes tinha acontecido. Não terão sido propriamente as
músicas as responsáveis por esta sensação, pois são praticamente as mesmas que
ouvi no Festival F (Faro), no Festival da Sardinha (Portimão), na Festa de
Verão (Quarteira) ou na Feira da Serra (São Brás de Alportel), entre outras
atuações recentes. Atribuo, por isso, a diferença ao facto do concerto ter
acontecido num auditório, um dos muitos a que Aurea vai levar o seu mais
recente disco «Confessions» em 2019.
Um concerto de música num auditório é, por tradição, mais
intimista e permite que se escute, como deve ser, a música. Escutar mesmo com
ouvidos de escutar. Não com o som no volume máximo que nem nos permite perceber
as palavras ou as notas, como sucede frequentemente nas atuações ao ar livre.
Por outro lado, os auditórios têm um problema bem conhecido de todos: as
pessoas estão sentadas e pensam que é mesmo para se estar quietinho, em
silêncio, ao longo de todo o espetáculo. E se isso tem lógica com a música
clássica, por exemplo, já o mesmo não se passa no pop/rock.
Mas o público assim foi «educado»: ao vivo, num grande
festival, é para gritar, saltar de braços no ar, dançar sem limites; num
auditório ou teatro é para se apreciar a música do conforto da cadeira. Resta,
então, que o artista tenha arte e engenho para contrariar essa regra. Há quem o
consiga, outros nem tanto, porque o público resiste, não reage logo ao primeiro
desafio, nem ao segundo, e às vezes os artistas não estão para se chatear.
Aurea, a cantar quase como se estivesse em casa, aliás, tinha os pais na
assistência, logo na primeira fila, não descansou enquanto não pôs a
assistência a participar ativamente no concerto.
Um espetáculo que teve quase duas partes distintas. Na
primeira, com um jogo de luz psicadélico, os azuis e rosas fluorescentes da
moda, de vestido comprido escuro, matador, sensual. Seguiu-se um instrumental a
cargo do guitarrista e baixista da banda, o tempo suficiente para se mudar o
cenário, com candelabros antigos a darem outro colorido ao palco, mas para a
própria Aurea mudar para um vestido branco pelos joelhos, mais juvenil, qual
rapariga a saltitar de pés descalços.
E foi com uma simples mudança de roupa e de cenário que o
concerto disparou. O público rendeu-se à simpatia da artista, ao seu sorriso
natural, às palavras que constantemente trocava com o público, até às risadas
que por vezes a impediram de prosseguir com a cantiga antes de recuperar o
fôlego. Partiu-se para uma noite mágica, com Aurea a descer do palco para falar
com os pais, a percorrer a plateia para meter o público a cantar, nem sequer os
técnicos de som e luz escaparam. De regresso ao palco, foi a vez dos músicos
exibirem os seus dotes vocais, uns bem afinados, outros com voz à Pato Donald,
como fizeram questão de explicar, justificando-se com uma ou outra constipação.
O concerto chegou ao fim com as emoções ao rubro, uma noite
estrondosa, daquelas que ficam na retina por muito tempo, mais tempo até do que
as atuações nos grandes festivais de Verão. Digo eu, claro, que fiquei verdadeiramente
encantado com a Aurea versão auditório. E por isso lá estarei, no dia 16 de
março, no Teatro das Figuras, em Faro, para mais uma data do «Confessions Tour
– Auditórios».
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina/Algarve
Informativo®
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