No âmbito do programa «Música e Ciência», o Grande Auditório da Universidade do Algarve, no Campus de Gambelas, acolhe, no dia 28 de março, pelas 15h, o concerto conferência «A Música dos Planetas». A iniciativa inovadora junta em palco a música e a ciência, contando com a atuação da Orquestra Metropolitana de Lisboa e com a intervenção de Carlos Fiolhais, professor de Física da Universidade de Coimbra. O concerto é aberto ao público em geral e tem entrada é livre.

No século XVII, o astrónomo Kepler falou da «música das esferas», procurando ligações entre a arte musical e os planetas do sistema solar, mas a música e os astros nunca estiveram tão perto como em «Os Planetas», a suíte em sete andamentos que é a mais célebre composição do inglês Gustav Holst (1874-1934). Escrita durante a 1.ª Guerra Mundial, entre 1914 e 1916, o seu motivo são os sete planetas do sistema solar conhecidos na época, além da Terra (Plutão, descoberto em 1930, foi planeta até 2006, quando foi relegado para planeta anão).

A estreia da composição, para uma audiência privada, ocorreu em 29 de setembro de 1918, no Queen’s Hall, em Londres, a lendária sala que haveria de ser destruída na 2.ª Guerra Mundial, mas a primeira execução pública foi há cem anos, a 27 de fevereiro de 1919. As composições de Holst, influenciadas por autores seus contemporâneos como Stravinsky e Schoenberg, são associados ao modernismo, tal como as pinturas de Kandinsky procuravam distanciar-se de formas clássicas de beleza. A harmonia é, nas peças de música modernistas, toldada pela dissonância, transmitindo emoções de um modo forte e por vezes surpreendente.

A abordagem musical de Holst aos planetas teve raízes na astrologia e não na astronomia. Segundo a astrologia, os planetas, que exercem supostas influências sobre os seres humanos, estão associados a certos traços psicológicos. A música procura ilustrar esses traços. O 1.º andamento é Marte, o «mensageiro da guerra», o 2.º é Vénus, o «mensageiro da paz», o 3.º Mercúrio, o «mensageiro alado», o 4.º Júpiter, o «mensageiro da alegria», o 5.º Saturno, o «mensageiro da velhice», o 6.º Úrano, o «mágico», e o 7.º Neptuno, o «místico». 

Alguns dos temas são tão expressivos que bandas de rock tocaram adaptações de «Os Planetas», John William escreveu a banda sonora de Star Wars bebendo nessa fonte, e o andamento sobre Marte foi usado por Carl Sagan na sua famosa série Cosmos. Hoje, após termos enviado diversas sondas a todo o sistema solar, sabemos muito mais sobre os planetas do que se sabia no tempo de Holst. Mas a sua poderosa música continua merecedora da nossa atenção, já que as emoções veiculadas pela arte são intemporais.