A Companhia Olga Roriz regressou ao Cine-Teatro Louletano,
no dia 15 de março, com a inquietante peça «A Meio da Noite», uma revisitação
do universo do realizador Ingmar Bergman numa celebração do seu nascimento e da
sua obra. “O que é mais importante na vida do realizador é a comunicação que
conseguimos com outros seres humanos: sem isso estaríamos mortos. A redenção,
por vezes, aparenta ser o amor, mas sempre que as personagens parecem perceber
isso, a luz é retirada do ecrã. Apesar de lhe interessar qualquer ser humano,
seja homem ou mulher, Bergman não esconde gostar mais de trabalhar com
mulheres, afirmando que são melhores atrizes, talvez porque têm uma relação
mais aberta com a sua reflexão. A verdade é que as mulheres de Bergman não são
um mito, elas existem em todo o seu esplendor e complexidade. As referências
são esmagadoras, tanto na quantidade como na dificuldade de análise e
interpretação de cada personagem. É nessa visão do realizador que nos
inspirámos, nesses homens e mulheres assustadoramente reais, na solidão em luta
constante com o interior”, explica a coreógrafa Olga Roriz.
«A Meio da Noite» é, assim, um espetáculo que se propõe
abordar a temática existencialista do encenador e cineasta Ingmar Bergman, mas simultaneamente
uma peça sobre o processo de criação numa procura incessante de si próprio e
dos outros. Em palco encontram-se sete intérpretes para partilhar as suas
pesquisas sobre a obra do realizador e criarem, coletiva ou individualmente,
cenas que possam integrar um futuro espetáculo. À volta de uma mesa/ilha
fecham-se nos seus pensamentos, mergulhados nos computadores, nos livros, nos
vídeos. Tudo nasce desse huis clos de
criação: o som, a luz, as imagens, as ações e contradições, dramas, pesadelos e
fantasmas. As camadas de representação acumulam-se, criando tramas
dramatúrgicas onde se mistura a mentira com a verdade dos factos. Por isso, «A
Meio da Noite» é uma profunda homenagem a Ingmar Bergman, aos atores dos seus
filmes e aos intérpretes desta Companhia.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Filipe Cunha
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