Pedro Bartilotti, Rosa Palma e Rui Virgínia |
A terceira edição do «Jazz nas Adegas» chega ao fim no dia
25 de maio, no Castelo de Silves, mas antes disso houve lugar a mais uma dupla sessão,
nos dias 17 e 18 de maio, na Quinta do Barranco Longo, em Algoz, com o Desidério
Lázaro Trio. O evento, organizado pela Câmara Municipal de Silves, é um dos «cartões-de-visita»
do programa «365 Algarve» das Secretarias de Estado do Turismo e Cultura e
conta com produção artística do Gimnásio Clube de Faro.
O objetivo é claro, dinamizar culturalmente os locais onde
se produzem os Vinhos de Silves, numa simbiose entre o vinho, o seu produtor e
a música, proporcionando uma experiência única ao público, em locais pouco
usuais para a apresentação de um concerto de jazz. E desde o início que o
público aderiu em massa, com sucessivas lotações esgotadas, para tremenda satisfação
de Rosa Palma, Presidente da Câmara Municipal de Silves, uma espetadora assídua
dos concertos. “O balanço só pode ser muito positivo e já há alguns anos que tínhamos
intenção de criar um evento que promovesse os vinhos do nosso concelho, à
semelhança do que acontece com a Mostra Silves Capital da Laranja. Começámos com
seis produtores, este ano contámos com 11, com o intuito de divulgar o nosso
território por via dos vinhos e para que as pessoas os associem também à nossa gastronomia”,
explicou durante o intervalo do concerto de Desidério Lázaro.
Rosa Palma enfatizou que o Algarve não é apenas «sol e praia»,
uma ideia que tem vindo a ganhar força no passado recente muito graças aos esforços
das autarquias em promover as suas riquezas gastronómicas, culturais e
históricas, entre outras. E o «Jazz nas Adegas», por exemplo, demonstra que
existem vinhos de excelente qualidade no concelho de Silves. “Têm sido repetidamente
destacados a nível internacional e trabalham todos em parceria, o que torna
esta dinâmica muito mais forte. E queremos que aqueles que produzem no nosso
concelho sintam este apoio da parte da Câmara Municipal, seja no vinho como
noutros produtos”, indicou a edil, confirmando estar-se na presença de um «casamento»
perfeito entre vinhos e cultura. “Fazer apenas uma demonstração de vinhos não cria
o ambiente espetacular a que temos assistido no «Jazz nas Adegas», em que se
torna mais propício apreciar verdadeiramente a qualidade destes vinhos. Nesta experiência
estão envolvidos vários sentidos e também associamos ao evento a história do
concelho, com personagens que estiveram em destaque nas diversas freguesias,
como foi o caso do João de Deus”, referiu.
Uma aposta que é para manter nos próximos anos, garantiu Rosa
Palma, até porque o programa «365 Algarve» também já teve a sua continuidade assegurada.
“Mesmo sem o «365 Algarve» teríamos nova edição do «Jazz nas Adegas», mas é
claro que tudo fica mais fácil com esta parceria com o Turismo do Algarve. Contudo,
é às pessoas que temos que agradecer acima de tudo, porque o evento foi um êxito
desde o primeiro ano”, destacou a Presidente da Câmara Municipal de Silves. E para
tal tem contribuído a criteriosa programação a cargo do Gimnásio Clube de Faro,
com Pedro Bartilotti a sublinhar a total liberdade que lhe foi concedida para
escolher os artistas que atuaram nas 24 sessões desta terceira edição. “É uma
programação com alguma complexidade porque estamos a falar de locais não
convencionais para levar a cabo espetáculos musicais, nomeadamente em termos de
acústica e dimensão. Temos desde trios a quintetos que tocam diferentes estilos
de jazz, desde o puro jazz a um jazz mais swing e New Orleans, e tentamos fazer
a distribuição mais adequada pelos espaços, sempre tendo a consciência de que não
estamos num clube de jazz”, comentou o Presidente da Direção do Gimnásio Clube
de Faro.
Agrupamentos que chegam de todo o país e a novidade da
terceira edição foi que cada sessão era dupla, ou seja, com um concerto na
sexta-feira à noite e outro no sábado à tarde. “Da Andaluzia vêm normalmente
dois grupos, com um jazz mais fresco, alegre e dançante. Também é obrigatório
ter projetos do Algarve, mas a maioria vem de Lisboa, sem dúvida a capital do jazz
em Portugal”, indicou Pedro Bartilotti, adiantando que o público do «Jazz nas
Adegas» vai variando conforme se trate do concerto noturno ou diurno. “À noite,
80 a 90 por cento das pessoas são portuguesas, à tarde, o cenário altera-se
completamente, é um mercado mais estrangeiro. Muitos vêm pelos vinhos e pelo
local, por se tratar de um concerto num espaço mágico, numa adega, outros são atraídos
pelo jazz e aproveitam para provar os vinhos e degustar as tapas, é um mix bem-sucedido”,
considerou o programador. “Tivemos este ano uma sessão numa corticeira, outra
com o poeta João de Deus, vamos tentando inovar para que o evento continue a
crescer de forma sustentada”, concluiu.
O anfitrião da noite foi Rui Virgínia, proprietário da
Quinta do Barranco Longo, uma das marcas mais conceituadas de vinhos do Algarve,
por entender que fazia todo o sentido participar no «Jazz nas Adegas». “É uma
forma indireta de darmos a conhecer os nossos vinhos a consumidores que
normalmente não têm possibilidade de visitar uma adega e muito menos para ali assistir
a um espetáculo musical. É uma experiência única que promove o concelho de
Silves e os seus produtores de vinhos”, justificou, explicando que a Quinta do
Barranco Longo não aderiu logo ao programa por se encontrar, na altura, numa
fase de mudança de instalações. “Mas fomos dos primeiros a estar envolvidos na
marca «Vinhos de Silves»”, esclareceu.
O empresário admitiu, entretanto, que a logística de montar um
concerto de jazz numa adega de vinhos é um grande desafio, por se estar em períodos
de engarrafamento e de preparação da próxima vindima. “Colocar tudo isto no
meio das cubas e prensas no interior da área de produção não é fácil, mas as
pessoas estiveram esta noite naquela que é, provavelmente, a melhor adega do
Algarve, em termos de equipamento e instalações, e a apreciar um dos melhores
saxofonistas portugueses da atualidade. Quem hoje nos visitou vai sair daqui com
uma experiência que dificilmente se repete”, acredita Rui Virgínia, frisando
que escolher a ementa de tapas e vinhos acaba por ser o menos complicado. “As marinagens
entre os três vinhos e os acompanhamentos foram pensadas ao pormenor e para
agradar ao máximo, mas isso é o nosso habitué. E o jazz cria um ambiente
perfeito para se apreciar um bom vinho. O «boca-a-boca» é a melhor forma de se
promover uma marca e já ninguém duvida da qualidade dos vinhos algarvios. Infelizmente,
continuamos a ter que trabalhar muito mais do que outra região vitivinícola qualquer
para nos impormos no mercado de consumo, até dentro do próprio Algarve. Já foi
mais difícil, estamos a conquistar o nosso espaço todos os dias e estes eventos
ajudam-nos a ganhar um mercado que é nosso por direito”, finalizou Rui Virgínia.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina