«E a Luz Tornar-se-á Líquida - um poema para Sophia» é a nova criação de Daniel Matos, tendo ido a cena, no dia 13 de julho, em Lagos. Um espetáculo que foi itinerante pelas ruas do Centro Histórico, com o percurso a começar no Parque da Cidade, junto à teia, nas traseiras do Banco Montepio, culminando no Forte Ponta da Bandeira.

De acordo com Daniel Matos, “desenhamos um caminho da manhã nas ruas caiadas de Lagos, mas desta vez debaixo de um sol noturno quase cheio”. “Não são os pés de Sophia que o percorrem, mas sim os pés de um grupo que desconhece o andar sozinho. Estamos perante um silêncio que descobre a cidade pelos olhos de quem a olha, mas não a vê, redesenhando uma fuga de luz compacta em quadrados ambulantes fechados”, indica o coreógrafo, que concebeu o espetáculo em colaboração com a comunidade lacobrigense, no âmbito da celebração do centenário da poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen.

Conforme explica Daniel Matos, “a leitura dos corpos naturalizados, que nos chegaram da comunidade lacobrigense para dar forma a palavras escritas, dá origem a um percurso performativo de 16 performers locais, realizado ao longo de três semanas de trabalho intensivo com base na questão: E ao fim do dia, a luz poderá tornar-se líquida?”. “Guiar uma luz fechada como voz e manifesto impera sobre a vontade de um coletivo uno, na descoberta da propagação luminosa como ato poético e afirmação de individualidades encontradas na obra de Sophia de Mello Breyner Andresen. Há uma procura pela liberdade do poema sem que este apareça, sem que este marque uma posição para além da vontade do eu no agora”, descreve, adiantando que “os corpos têm sede de ser libertos, de sair da sombra e de perceber o que é entrar na água ligados à corrente, na procura de ser uma gota de luz que escorre nas faces dos não-ouvintes”.

Por isso, Daniel Matos questiona até que ponto o corpo é oásis e sede em simultâneo? “Os ossos quebram nos intervalos da língua, uma árvore nasce a partir do sítio de onde fomos gerados, respirar é difícil debaixo de água e o pássaro que tenta voar afinal é um peixe preso num ecrã. O poema precisa de andar até à madrugada seguinte para que seja ouvido”, afirma o criador e diretor artístico.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Fátima Vargas

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