A Fortaleza de Sagres recebe, até 10 de novembro, a
exposição «A Europa começa Aqui! - Marca do Património Europeu», que já tem
percorrido vários locais do país e chega agora ao concelho de Vila do Bispo. “É
diferente de outras distinções porque assenta sobretudo no aspeto simbólico que
o sítio possui, e não tanto na sua vertente arquitetónica. Este foi um espaço
de partida para os Descobrimentos, de abertura ao mundo, com o simbolismo do
diálogo, mesmo que isso depois não tenha acontecido sempre”, explica Adriana
Freire Nogueira, Diretora Regional de Cultura do Algarve. “Sabemos que os
Descobrimentos tiveram aspetos negativos, mas na sua maioria foram positivos e
a Fortaleza de Sagres é um espaço de paz e foi um ponto de partida para que
houvesse uma confluência de culturas”, acrescenta.
A Marca do Património Europeu é uma iniciativa do Parlamento
Europeu e do Conselho da União Europeia que tem como principais objetivos
reforçar o sentimento de pertença à União Europeia por parte dos seus cidadãos,
em especial dos jovens, com base nos valores e elementos comuns da história e
do património cultural; valorizar a diversidade nacional e regional; e
incrementar o diálogo intercultural. Destaca lugares patrimoniais, sítios,
monumentos, paisagens culturais e documentos que comemoram, simbolizam a
integração europeia, os ideais, os valores e a história da União Europeia,
tendo sido distinguidos 38 sítios, um dos quais precisamente o Promontório de
Sagres. “Temos aqui locais que marcaram momentos diferentes da nossa história
como europeus e, numa altura em que se pensa numa desagregação da União
Europeia, há que pensar que a Europa é muito mais do que isso”, avisa Adriana
Freire Nogueira.
Finisterra emblemática e evocativa de um período marcado
pelas viagens de exploração marítima e pela expansão da civilização europeia no
seu caminho para o projeto global que veio a definir o mundo moderno, o
Promontório de Sagres representa um lugar de vanguarda da nossa herança
histórica e é um símbolo de integração europeia e de
um caminho partilhado de liberdade, de intercâmbio cultural e de democracia. Para
além do Promontório de Sagres, Portugal tem atualmente outras duas Marcas do
Património Europeu, designadamente, a Biblioteca Geral da Universidade de
Coimbra, uma das primeiras na Europa a organizar o seu acervo em catálogos
temáticos e a permitir o acesso a livros proibidos, e a Carta de Lei da
Abolição da Pena de Morte (1867), que coloca Portugal como um dos primeiros
países europeus a inscrever, no seu sistema legal, uma lei de abolição da pena
de morte para crimes civis. E a Diretora Regional de Cultura do Algarve reforça
a importância destas distinções. “A Biblioteca da Universidade de Coimbra protegeu
da destruição livros que tinham sido censurados, houve ali uma preservação do
saber que é fundamental, mesmo que as ideias sejam contraditórias. E Portugal
foi pioneiro na preservação da vida com a legislação que aboliu a pena de morte”,
destaca.
Fortaleza de Sagres que continua a ser um dos monumentos
mais visitados de Portugal, portanto, que terá a ganhar com esta Marca do
Património Europeu, questionamos. “É uma marca relativamente recente e todas as
distinções são importantes para realçar a importância que Sagres teve nesse período
da história. E o Algarve continua a ocupar uma localização muito propícia para
este entendimento entre nações”, considera Adriana Freire Nogueira, adiantando
que é função da estrutura que lidera divulgar e valorizar a história dos
monumentos que estão sob a sua tutela. “A marca é um símbolo internacional, pelo
que a Fortaleza de Sagres acaba por estar junto de todos os restantes sítios
distinguidos nas várias ações que são dinamizadas no contexto europeu. E um dos
projetos da Direção Regional de Cultura do Algarve diz respeito aos mais jovens,
queremos ir às escolas falar do nosso património e identidade. Veja-se o nível de
abstenção das recentes Eleições Europeias. Temos que pensar mais sobre a Europa”,
defende a entrevistada. “Hoje existem muitas marcas simbólicas da nossa herança
da antiguidade, seja na arte, na comunicação ou na linguagem, e isso permite
que os jovens constatem que, aquilo que eles pensam que é novo, já foi pensado por
outros no passado. Há uma forma de estar que esta Europa criou a partir dos princípios
da Antiguidade, mas é necessário que nos continuemos sempre a questionar sobre aquilo
que nos rodeiam. Esta exposição alerta-nos para coisas que julgamos estarem garantidas,
mas todos temos que conhecer a nossa herança e perceber por que razão ela é diferente
de todas as outras. Só conseguimos defender uma causa se estivermos cientes do
que ela significa”.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina