Os vinhos e o clima seduziram o alemão Horst Lieberwirth a radicar-se no Algarve |
Com a oitava sessão do Lagoa Wine
Sessions (LWS), realizada em noite de Halloween, chegou ao fim a iniciativa da
Câmara Municipal de Lagoa de proporcionar aos empresários hoteleiros e
profissionais do setor, um contacto direto com os produtores e os vinhos
vinificados no Concelho de Lagoa.
Luís Encarnação, presidente da
autarquia lagoense, em declarações ao Algarve Informativo, indicou que esta
primeira edição do Lagoa Wine Sessions, surgiu como uma “extensão do já
conhecido Lagoa Wine Show”, que habitualmente em junho anima as ruas de
Lagoa com gastronomia e música, “só que aqui numa vertente focada na
promoção junto da hotelaria com o intuito de alargar a presença de vinhos de
Lagoa nas cartas dos restaurantes”. “Obviamente esta promoção acaba por
extravasar os vinhos exclusivamente de Lagoa, sendo benéfica para toda a
produção regional. Nesse sentido, até temos intenção de propor na AMAL a
realização de algo semelhante para outros concelhos produtores”, adiantou
Luís Encarnação.
Para já está disponível no mercado este quarteto, a que se irá juntar em breve um Reserva (tinto) e um rosé. O camaleão foi a mascote escolhida para todos os rótulos, também ele um símbolo do Algarve |
No fecho da primeira edição curiosamente temos um produtor que está a abrir
portas e a iniciar a divulgação e distribuição dos seus vinhos. Um bom
prenúncio, não só para o evento, como para o Algarve, que mostra ser atrativo
para o setor. A Quinta das Capinhas é uma nova adição para os cerca de 40
produtores algarvios registados na CVA – Comissão Vitivinícola do Algarve. Horst
Lieberwirth é o proprietário, sendo o típico imigrante desta nova vaga
globalizante do séc. XXI. Já reformado, de origem alemã, mas sentindo ainda o
vigor da jovem velhice, começa por ir para a África do Sul, zona também com bom
clima e bom terroir para os vinhos. Só que para Lieberwirth o Algarve falou
mais alto, com os argumentos que já estamos habituados a ouvir, mas que sabe
sempre bem recordar: bom clima, boas condições naturais para produzir vinho (o
tal terroir) e a segurança e estabilidade que faltava no outro continente, a
que se juntou a proximidade à Europa, facilitando as viagens.
Depois de cá estar radicado, Lieberwirth conhece a filha do vizinho, de origem
brasileira, e dá-se o casamento, do qual já têm uma filha. Se dizem que os
vinhos precisam de uma história por detrás, pode-se dizer que a Quinta dos
Capinhas, designação que resulta do nome de família da esposa, tem bastante
para contar. E se, para além das histórias, é preciso paixão, bem, essa também
existe, pois Lieberwirth profissionalmente não tem nada a ver com o setor dos
vinhos, é apenas um entusiasta e enófilo que veio desenvolver esta sua faceta
pessoal na Quinta dos Capinhas, uma propriedade perto de Porches, onde alia a
vinha, à produção de azeite e ao turismo rural, dispondo de moradias típicas
para alugar. O proprietário considera serem curtos, para uma abordagem mais
comercial, os atuais cinco hectares de vinha e tem planos para crescer pelo
menos até aos 10 num horizonte próximo.
Entretanto, foram quatro os vinhos dados no conhecer nesta sessão de provas. Dois brancos e dois tintos, todos com castas nacionais, pois para Lieberwirth “não fazia sentido estar em Portugal e não apostar principalmente nas castas autóctones”. E para apenas cinco hectares, a Quinta dos Capinhas tem até bastante diversidade, com uma dezena de variedades, seis brancas e quatro tintas. Em prova estiveram os monocastas Antão Vaz (branco) e Touriga Nacional (tinto) e os blends Antão Vaz e Arinto (branco) e um tinto com quatro castas – duas portuguesas e duas francesas.
Lieberwirth com a sua esposa Inês Capinha, que conheceu no Algarve, com a sua filha Maria |
Todos os vinhos estão bem conseguidos e são um ótimo cartão de visita da casa e
da região, destacando-se do conjunto o Touriga Nacional. Apesar dos seus 14,5%
de volume alcoólico, está muito bem casado e arredondado pelos 12 meses de
barrica de carvalho francês onde estagiou, apresentando boa acidez e
adstringência com um lado vegetal e resinoso e notas de especiarias, que lhe
confere uma personalidade muito própria e um lado gastronómico muito vincado,
sobretudo com carnes vermelhas, caça e charcutaria.
Um bom arranque sem dúvida da Quinta dos Capinhas que vinifica o vinho na adega
da Cooperativa Única com o enólogo João do Ó, um bom conhecedor dos vinhos
algarvios, onde a experiência na Cooperativa e a colaboração com outros
produtores, tem-lhe permitido criar vinhos de muita qualidade, a que se junta
mais estes agora. Na forja está também um rosé para o próximo ano, uma
tendência de mercado à qual Lieberwirth também quer aderir e assim ficar com o
portfólio base todo completo com branco, tinto e rosé.
A equipa da Algarve Views esteve a cargo do serviço de vinhos, sempre com a habitual simpatia e disponibilidade |
Termina, portanto, em grande esta primeira edição do Lagoa Wine Sessions, não
estando certo ainda se haverá uma segunda edição e em que moldes, mas prevê-se
que sim, pois Lagoa, afirmando-se como Capital dos Vinhos do Algarve e
disputando as atenções vinícolas da região com o Concelho vizinho de Silves,
tem necessariamente que desenvolver
iniciativas (esta e outras) em prol de uma atividade importante para o Concelho
e que engloba outras vertentes como o enoturismo, ao qual a autarquia também
pisca o olho com bastante interesse, conforme salienta igualmente Luís
Encarnação. “É importante também para o turista que nos visita ter acesso
não só a uma gastronomia local genuína, mas igualmente aos vinhos locais, pois
só assim se completa toda a relação entre património cultural, paisagístico e
gastronómico”.
Texto: Vico Ughetto | Fotografia: Vico Ughetto