Inaugurou, no dia 10 de janeiro, na Associação Re-Criativa República 14, em Olhão, a primeira exposição de Fernando Lobo no Algarve desde que regressou à sua terra natal em 2019. O farense tem vindo a acumular experiência no campo das artes gráficas ao longo de mais de 40 anos, dos quais 33 passados na Holanda, onde foi Diretor Artístico no departamento de publicidade do maior jornal local – De Telegraaf – para além de ter trabalhado noutras agências de publicidade. É igualmente um dos sócios fundadores da editora algarvia Arandis, juntamente com Nuno Campos Inácio e Sérgio Brito, e desde 2012 que trabalha como editor e designer, tendo paginado e publicado mais de duas centenas de livros de autores algarvios através desta chancela.

Foi na Re-Criativa República 14 de Olhão que estivemos à conversa com Fernando Lobo, farense de gema, um sessentão que passou metade da sua vida na Holanda, onde exerceu, na maior parte do tempo, funções de Diretor Artístico no «De Telegraaf». Antes disso, porém, logo a seguir à Revolução dos Cravos, deu aulas de Design Gráfico, Desenho e Teoria do Design em Portimão. Em 1979 trabalhou numa reputada gráfica do Algarve e pode-se dizer que ali teve a sua verdadeira aprendizagem no ofício. “Em 1974 estava em Belas Artes, mas, com a revolução, qual era o jovem de 18 anos que ia às aulas? Eu queria era ir para a rua”, recorda, com um sorriso.

Anos depois rumou à Holanda, não por motivos profissionais, mas atrás do amor, e nos Países Baixos constituiu família. E tudo corria de feição até aos atentados do 11 de setembro, altura em que muitas empresas encetaram um processo de reorganização e corte de efetivos. “A certa altura, o departamento de publicidade do jornal foi parar à Índia e comecei a dedicar-me mais à minha expressão criativa. Já tinha muitas gavetas e pastas cheias de trabalhos, não queria perder a mão, o traço. Aliás, ando sempre com um caderno para fazer desenhos porque quero surpreender-me a cada momento. E, com quase 64 anos, se ainda tiver uns bons 20 aninhos pela frente, quero vivê-los no Algarve”, afirma. “A Holanda pode parecer muito bonita à distância, mas o Algarve é bem melhor. Estamos aqui a falar sob este céu azul e este sol brilhante, é como se já estivéssemos na Primavera”.

Há pouco mais de seis meses em Portugal, num instante Fernando Lobo se apercebeu das diferenças culturais existentes entre os dois países e projetos não lhe faltam, garante. “Claro que vou trabalhar muito para a Arandis na minha vertente de design gráfico e composição de livros, mas quero dar também o meu contributo para a produção artística do Algarve. Há muita cultura – cerveja é cultura, marisco é cultura, berbigão é cultura – mas cultura e arte não são a mesma coisa”, distingue o entrevistado, o que não significa que ela não exista. “Em sete anos de existência de Arandis já produzimos mais de 200 livros de algarvios ou de pessoas ligadas ao Algarve, portanto, há muito talento e expressão artística. E há bastantes equipamentos culturais. Posso dizer, inclusive, que não assisti, na Holanda, a tantos concertos de música boa como o tenho feito no Algarve”, destaca.  

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina