«Multiregional origins of the
domesticated tetraploid wheats» é o título do artigo do
investigador do Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento
Humano (ICArEHB) da Universidade do Algarve, Hugo Oliveira, publicado no dia 22
de janeiro, na revista científica de acesso livre PLOS ONE. O artigo, elaborado
em conjunto com uma equipa da Universidade de Manchester, deriva de uma investigação
sobre as origens complexas do trigo, nomeadamente de uma espécie já pouco
cultivada, mas que é o ancestral dos trigos atuais, o Farro.
Até ao início do século XX este trigo era cultivado em
Portugal e dele deriva a palavra «farinha». Esta espécie foi uma das primeiras
a ser domesticada pelos humanos, tendo sido este um passo importante para a
transição entre a caça-recoleção e a agricultura. Enquanto os registos
arqueológicos sugerem que o cultivo começou na área sul do Levante, na
fronteira leste do Mar Mediterrâneo, há cerca de nove mil e 500 anos, estudos
genéticos apontavam para que a sua origem tenha sido na região norte do
Crescente Fértil, atual Turquia.
Para esclarecer as origens do Farro, os investigadores
examinaram 189 variedades domesticadas de Farro, trigo-duro (usado para massas
e couscous) e do seu ancestral selvagem (Triticum dicoccum subsp. dicoccoides)
e utilizaram mais de um milhão de variações genéticas para descobrir as
relações entre diferentes tipos de trigo. Baseado nessa análise, os
investigadores propõem que variedades de Farro selvagens, cultivadas por
humanos, mas ainda não domesticadas, propagaram-se desde o sul do Levante até
ao sudeste da Turquia, onde se terá misturado com uma população locais de
Farros selvagem produzindo a primeira variedade domesticada. Os resultados
desta hibridação podem ainda ser detetados nos Farros selvagens existentes na
Turquia atualmente. As complexas relações evolutivas entre Farros selvagens e as
variedades de trigo cultivado, descobertas nesta investigação, são semelhantes
ao cruzamento que ocorreu entre outras colheitas de grãos selvagens e
cultivados, como a cevada e o arroz.