Foram quase duas horas cheias, vivas, comoventes, de puro deslumbramento, de surpresa consecutiva e de intensa criatividade.
Convidados de «excelência»!!!

A palavra excelência significa «qualidade do que é excelente; qualidade muito superior». E não me ocorre outra, quando penso na noite de 17 de janeiro de 2020. Excelência, pelo feliz encontro de itens que nem sempre coincidem no tempo e no espaço: qualidade da música e de quem a executa, relação emocional forte com a audiência e uma consistência global de um espetáculo narrado por uma voz quase celestial de Teresa Aleixo.

A Teresa Aleixo é a mesma miúda que nasceu a gostar de música e que começou a aprender piano aos seis anos de idade. E a quem os anos e as mais variadas experiências musicais deram maturidade, sabedoria, virtuosismo e, por outro lado, doses generosas de humildade e talento, bem patente neste seu primeiro álbum «Quanto de mim», produzido por Tércio Freire e gravado na nossa região, mais concretamente no «BoxMusic Estúdios» de Luís Rocha.

A genuína felicidade com que Teresa Aleixo se apresentou no meio do gigantesco «circo» montado à sua volta foi comovente. A forma como se deu ao público e quebrou a natural distância entre um palco e plateia, foi um manifesto de inteligência e sensibilidade. O resto, bom, o resto foi só talento, energia, amor à música e uma coleção de grandes canções: «Império Quimera», «Viagem», «Paraíso», «Quanto de mim», «Palavras», «Pudesse eu». Cada canção foi em si um concerto, um episódio completo.

Entre a Teresa Aleixo e os músicos (Paulo Franco, Nanook, Pedro Gil, Nuno Campos e Bárbara Santos) nós e o público que encheu o Pequeno Auditório do TEMPO – houve mais do que empatia. Comunhão parece-me a palavra justa. Teresa Aleixo deu o melhor que tinha. Deu tudo. A cada momento parecia que explodia de alegria. Parecia uma «criança» num palco pequeno demais para todo o seu talento. Um génio que pediu desculpa por improvisar genialmente o inédito «Vagabundo» no piano, que arrepiou e comoveu.

Vimos uma sequência musical combinada na perfeição, criando momentos de energia seguidos de momentos de contenção e emoção, implacáveis no rigor e na capacidade de agarrar o público. Vimos uma cantora perfeita, sem falhas, mas também sem que lhe faltasse sentimento, entregue à sua paixão, acompanhada por um conjunto de músicos competentes, rigorosos, empenhados. Vimos uma plateia rendida, cúmplice, que puxava pela cantora e por ela se deixava levar.

Saímos todos em estado de graça. Eu e o Ricardo sinceramente emocionados, agradecidos e felizes pelo gesto que teve e o tempo que perdeu ao imortalizar a sua passagem pelo Choque Frontal ao Vivo:

A sul, nas terras do mar,
há artistas que teimam em contar
Toda a arte que guardam no peito.

Mas os caminhos que percorrem
complicam-lhes a jornada
E p’ra muitos de fé não sobra nada.

“Não a percam, artistas!”
- ouve-se alguém exclamar.

“Estamos aqui nós para vos encaminhar,
que nesta terra a sul de Portugal
Todos precisam de um Choque Frontal
Para a alma poder falar!”

Vimos e vivemos, em resumo, um momento único de boa música, uma noite que encheu as medidas. Das melhores noites que a música portuguesa nos deu nos últimos anos. E eu fiquei a pensar na palavra «excelência» e como ela aqui faz todo o sentido.

Quando ouvirem o nome de Teresa Aleixo…  Comprem! Contratem! Oiçam! Vejam! Prestem muita atenção e não tenham dúvidas, porque é sinónimo de excelência!

Texto: Júlio Ferreira | Fotografia: Vera Lisa

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