Com a pandemia da covid-19 sem fim à vista, o Festival MED integrou o conjunto de eventos que foram cancelados um pouco por todo o país. Mas a sua grandiosidade permanece na mente de todos, pelo que aqui recordamos a edição de 2019, que atraiu à cidade de Loulé, de 27 a 30 de junho, muitos milhares de visitantes, a que se juntaram, claro está, outros tantos milhares de algarvios, para uma verdadeira maratona cultural. Um excelente cartaz, diversos palcos, entre eles o novíssimo Chafariz, animação de rua constante a cargo de grupos locais e internacionais, perfizeram uma ampla oferta a que nem faltou a poesia, o teatro e o cinema, porque o MED não se faz apenas de world music.

A 16.ª edição do MED encheu de cor, alegria e magia a Zona Histórica de Loulé e a única falha que se pode apontar ao festival é algo que não lhe pode ser diretamente imputável e que nunca será colmatado, isto é, a impossibilidade humana de se poder apreciar tudo o que ele tem para oferecer. Porque, apesar da área geográfica do MED estar perfeitamente delimitada e até ser relativamente fácil – apesar da multidão que enche as ruas – ir de um palco para o outro, simplesmente não conseguimos estar em dois lugares ao mesmo tempo, o que nos obriga a fazer escolhas. Escolhas que se tornam mais complicadas de fazer porque a qualidade é bastante homogénea, ou seja, não se pode dizer que haja artistas ou grupos de primeira, segunda ou terceira categoria, são todos bons, cada um dentro do seu estilo. 

Resta assim a nós, comuns mortais, enquanto não se desenvolver, no mundo real, a tecnologia dos clones humanos, fazer as nossas opções, decidir a que concertos vamos assistir, e o melhor é nem pensar naquilo que está a acontecer a poucos metros de distância, no coração de uma cidade onde a herança islâmica está bem presente e onde se respira um ambiente verdadeiramente mediterrânico. E, segundo dados da organização, havia, de facto, imenso por onde optar. Ao todo foram 80 horas de música em 10 palcos, com artistas vindos de paragens tão distintas como os estreantes Haiti e Trindade e Tobago, ou dos repetentes Níger, México, Turquia e Cabo Verde. Destaques naturais para nomes mais conhecidos como o brasileiro Marcelo D2, o cabo-verdiano de Quarteira Dino D’Santiago, o tobaguenho Anthony Joseph, o franco-congolês Tshegue, as sonoridades mariachi da Orkesta Mendoza, a melodia lusitana de Ricardo Ribeiro, a beleza artística de Camané e Mário Laginha novamente juntos num palco de Loulé, ou a irreverencia dos Cais do Sodré Funk Connection. Mas outros menos mediáticos constituíram agradáveis surpresas, numa cataplana de culturas e linguagens musicais que continuam a fazer as delícias dos adeptos do MED.

O MED Classic voltou a levar agrupamentos de música clássica ao interior da Igreja Matriz, para satisfação do público mais apreciador deste estilo erudito. O Palco Calcinha juntou música e poesia, pelo Palco Bica passaram projetos inovadores da região, sobretudo na área do indie, e os fadistas algarvios tiveram um lugar cativo no MED Fado. Nas ruas eramos surpreendidos por dezenas de artistas da Satori, Rhakatta e Al-Fanfare, de grupos de cante alentejano ou de ranchos folclóricos do concelho, mas também a gastronomia e o artesanato fizeram parte dos aliciantes da Zona Histórica de Loulé por estes dias. E uma das novidades de 2019 foi o Cinema MED, com curadoria de Rui Tendinha, curtas-metragens e a estreia de «Gabriel e a Montanha», de Fellipe Barbosa.

Não admira, por isso, que Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé, faça um balanço extremamente positivo daquela que foi, provavelmente, a edição mais concorrida de sempre da história do MED. “Vimos espetáculos maravilhosos nos diversos palcos, sempre com grandes assistências. A festa num país e num festival mediterrânico, com noites destas, só pode atrair as pessoas e fazê-las felizes”, afirmou o autarca, que sublinhou ainda a preocupação ambiental da parte da autarquia que esteve bastante presente em 2019, com ações como o copo ecológico, os bebedouros com água da rede pública, as papeleiras inteligentes e compactadoras ou os painéis solares que deram «energia limpa» às tasquinhas da restauração.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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