Adiados devido à pandemia da covid-19, os encontros do DeVIR regressaram, no dia 18 setembro, com duas performances no Cineteatro Louletano.

«Entre Contenções», solo de Eduardo Fukushima, tornou-se num trabalho icónico de um dos mais destacados/premiados coreógrafos da dança contemporânea brasileira. “Desde a sua criação tem vindo a ser apresentado ininterruptamente, o que se justifica pela sua qualidade e simplicidade e pela verdade que nos transmite. Resultou de uma pesquisa de linguagem muito pessoal, um vocabulário simples e cru que joga com a desarmonia e o confronto”, explica a organização.

O solo «Entre Contenções» representa um dos momentos da pesquisa de linguagem em dança contemporânea que Eduardo Fukushima vem realizando desde 2007, com base em questões e sensações autobiográficas. A dança é a própria pergunta, como vontade de potência e geradora de movimento. Este trabalho faz uso do mínimo possível de recursos cénicos, gerando uma dança que acontece na crueza do espaço.

Francisco Camacho é um Portugal adiado que somos todos nós, que vive na promessa do retorno, descreve a organização dos encontros do DeVIR. “Muito poucas vezes a dança portuguesa espelhou tão bem a nossa identidade histórica. «Um Rei no Exílio» é a recriação, o resgate de um solo marcante da dança contemporânea portuguesa, que se centra na figura de D. Manuel II, o último Rei de Portugal, exilado em Inglaterra em 1910. É um retrato dum certo Portugal, por vezes irónico, por vezes controverso, onde a solidão é permanente”. Um universo grotesco, obscuro, sensual que justapõe a intimidade, os vícios do coreógrafo/intérprete e a figura iconográfica do Rei. “Passado e presente confundem-se numa personagem, que vive distintas histórias centradas em gestos e ações simbólicas do quotidiano masculino”.

Nos últimos 27 anos, e depois de apresentações na Europa, África e América, o remake deste solo continua a expor uma personagem dividida entre a passividade e a ação, que hesita em envolver-se na luta pelo poder e rodeia-se de prazeres triviais. Uma figura histórica, expõe-se aqui um corpo presente, preso na dialética entre razão privada e razão de Estado, entre poder e potência, envolto num manto de ironia que mais amplifica na atualidade o apelo particular desta obra marcante da história da dança portuguesa.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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