Visualizar os achados arqueológicos exibidos em museus no contexto original; recriar o ambiente arquitetónico e urbano dos locais de arte; reconstruir o contexto histórico e arqueológico de sítios com achados restaurados; participar na reconstrução de escavações, cenas vivas da vida e costumes do passado, ativando um elevador do espaço-tempo, que permite observar as mudanças dos locais culturais ao longo do tempo, são alguns exemplos das soluções inovadoras levadas a cabo pela plataforma mediterrânica iHERITAGE TIC para o património cultural da UNESCO. Estas ações são alguns exemplos centrados em três conceitos - Realidade Virtual (VR), Realidade Aumentada (AR) e Realidade Mista (MR)- que serão aplicados a sites da UNESCO de seis países mediterrâneos parceiros do projeto: Itália, Egito, Espanha, Jordânia, Líbano, Portugal.


O projeto surgiu na Sicília, num momento em que o mundo da cultura e do turismo vivem uma profunda crise devido à emergência sanitária, e foi idealizado por Lucio Tambuzzo, membro da Associação dos Castelos da região da Sicília. O projeto encontra-se integrado no Centro de Investigação em Turismo, Sustentabilidade e Bem-Estar (CinTurs) da Universidade do Algarve e também será uma oportunidade para a cultura e o turismo. “Através da introdução de novas tecnologias e de experiências virtuais, pretende-se contribuir para a afirmação e melhor conhecimento da realidade mediterrânica da região, introduzindo inovação nas narrativas tradicionais, envolvendo empresas, investigação e a comunidade”, considera Alexandra Gonçalves, docente da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da UAlg, num processo que vai envolver as empresas, a investigação e a comunidade.

O iHERITAGE irá revolucionar o mundo da cultura e do turismo, sendo que, com esta plataforma, será criado o primeiro Registo do Património Cultural Imaterial da Bacia do Mediterrâneo, que no caso do Algarve inclui a Dieta Mediterrânica, serão produzidos guias de áudio-vídeo AR / VR, que darão acesso a reconstruções 3D, cross media acessíveis em PC, smartphone, tablet e óculos AR. Ou seja, mais de 70 produtos inovadores serão cocriados, protótipados, testados e comercializados dentro dos Living Labs que integram o projeto. “O iHERITAGE vai mostrar-nos o património mediterrâneo da UNESCO como nunca o vimos”, afirmou Lucio Tambuzzo, criador do projeto, confirmando que “dezenas de novas soluções tecnológicas AR / VR / MR abrirão caminho para uma relação democrática e sem precedentes com as tradições orais, o património cultural e a arqueologia, revelando formas, contextos e conteúdos que de outra forma seriam invisíveis e reservados apenas para iniciados”.

O projeto também apoiará a indústria criativa e start-ups inovadoras em seis países mediterrânicos, graças a financiamentos destinados a criar novos conteúdos aumentados e virtuais nos seus principais setores: cultura e turismo. O conjunto de tecnologias inovadoras e um património cultural de importância global são a base de uma nova geração de experiências que dá força ao nosso grande desafio digital global, onde o passado prevê um futuro promissor. “Este projeto vai ser decisivo para a valorização do nosso património arqueológico e dos monumentos do ponto de vista turístico”, afirmou, por sua vez, Manlio Messina, assessor regional de Turismo da Sicília, principal beneficiário do projeto. “O projecto iHERITAGE envolve-nos como parceiro líder e também liga parceiros da bacia euro-mediterrânica como Egipto, Espanha, Jordânia, Líbano e Portugal, que possuem um património ao mais alto nível”. Com este projeto, acrescenta, “poderemos observar os lugares da história tal como foram no passado, poderemos deter-nos em cada detalhe, fazendo uma visita a partir da nossa casa, através dos nossos smartphones ou tablets. “O iHeritage também aumentará as capacidades empreendedoras de jovens, funcionários da administração pública e pesquisadores, através de cursos de formação, melhorará as oportunidades de trabalho autónomo, por via do apoio a spin-offs, para além de proporcionar um importante impulso para o emprego no setor da indústria criativa”, reforça.

Vários sítios da UNESCO, dos países parceiros, beneficiarão com os produtos e resultados gerados pelo projeto. Na Sicília, esses sítios abrangem locais selecionados da UNESCO, que serão identificados pelo Departamento de Turismo da Região da Sicília, em colaboração com o Departamento de Património Cultural e a Universidade de Palermo. Em Espanha, os locais selecionados da UNESCO serão identificados pela Fundação Pública da Andaluzia, O Legado da Andaluzia. No Egipto, já estão identificados Memphis e sua necrópole, os campos da pirâmide de Gizé, Dahshur. Foram ainda selecionados Petra, na Jordânia, e Byblos, no Líbano.

A plataforma mediterrânea TIC iHERITAGE para o património cultural da UNESCO é um projeto estratégico, cofinanciado em 3 milhões, 469 mil e 510,80 euros pelo Programa da Bacia do Mar Mediterrâneo ENI CBC da União Europeia, e terá a duração de 30 meses. O orçamento total do projeto é de 3 milhões, 874 mil e 287,06 euros e foi reconhecido como um dos projetos estrategicamente mais importantes, das 198 propostas apresentadas em toda a Bacia do Mediterrâneo. 

O programa ENI CBC da Bacia do Mar Mediterrâneo para 2014-2020 é uma iniciativa de Cooperação Transfronteiriça (CBC) multilateral, financiada pelo Instrumento Europeu de Vizinhança (ENI). O objetivo do programa é promover o desenvolvimento económico, social e territorial justo, equitativo e sustentável, que possa promover a integração transfronteiriça e valorizar os territórios e valores dos países participantes. Um total de 13 países participam no programa: Chipre, Egito, França, Grécia, Israel, Itália, Jordânia, Líbano, Malta, Palestina, Portugal, Espanha, Tunísia, sendo a Autoridade de Gestão (AM) a Região Autónoma da Sardenha (Itália).