Nesta Páscoa, acabei de devorar uma quantidade absurda de chocolate, apenas para impedir que os meus filhos comessem tudo o que lhes ofereceram.

No fundo, quis homenagear o sacrifício de Jesus na cruz, sacrificando-me também pelos meus semelhantes. Pareceu-me ajustado. Rezo todos os dias para não ter uma dor de barriga daquelas, mas foi puro sacrifício. Aliás, a religião também é um pouco isto, ter fé e acreditar que as coisas boas acontecem porque rezaste, foste à missa, não interessando para nada que sejas a pessoa mais intragável do mundo, basta confessares os teus pecados e já está, aleluia! Confesso que comi chocolate…a mais.

Como o tema da Páscoa ainda está tão atual e na barriga de tanta gente aqui vai….

Quando Jesus fez a sua série de workshops com os 12 apóstolos deu-lhes instruções para que, após a sua morte por crucificação, corressem o mundo e difundissem a Palavra do Senhor e não aqueles desenhos no Facebook da cara de Jesus Cristo ensanguentado na cruz com o seguinte comentário “1 Gosto = 1 Obrigado“. A sério… É que tenho a certeza que Jesus Cristo estava lá na vida dele, todo «marafade» porque ninguém lhe tinha agradecido convenientemente o facto de se ter pregado numa cruz (e sabe Deus o que deve ter doído… sabe Deus, não… sabe o filho Dele), e ainda mais «marafade» por ninguém fazer uma homenagem decente à ideia mais peregrina que algum dia lhe passou naquela cabeça, até que, FINALMENTE, abre o seu perfil e vê que afinal tudo valeu a pena. Como é que ninguém se tinha lembrado disto!?? Tão simples… em vez da palavra do Senhor, uma imagem no Facebook.

Mas voltemos à palavra do Senhor…

Porque tudo tem uma simples explicação. Azar dos azares, Jesus nunca conseguiu dar o último módulo do workshop dedicado a «Coisas Que Devemos Dizer Para Arranjar Mais Sócios». Falou-lhes dos Milagres, falou-lhes do Céu & Inferno, falou-lhes na Vida Eterna, mas, quando ia falar na Palavra do Senhor, um destacamento de romanos entrou-lhe pelo auditório adentro (o Judas havia-se chibado por não estar de acordo com os valores a pagar pelo workshop) e levaram-no. Parecendo que não, para o Jesus, não vinha nada a calhar e lixava-lhe a tarde toda. Na verdade, até lixava o fim-de-semana todo. Era Quinta e já só ressuscitaria no Domingo. Ainda assim, lá fez o que tinha que ser feito (agora pensem nisso, antes de fazerem birrinha só porque vos marcaram uma reunião secante numa sexta à tarde). O melhor de todos nós morre sem saber dizer concretamente que Palavra era aquela.

Os apóstolos ainda tentaram fazer um brainstorming com os conhecimentos adquiridos até à data, de modo a conseguirem chegar a algo que se assemelhasse ao que eles achavam que seria a Palavra do Senhor, mas tirando aquela cena da ressuscitação (onde todos estavam de acordo que era uma história do caraças e que merecia ser contada), não conseguiram chegar a uma conclusão sobre qual seria a Palavra do Senhor. E assim cada um deles foi à sua vida escrever e pregar sobre a sua visão de Deus e de Jesus, e cada um deles achou que sabia qual era a Palavra do Senhor.

Pedro, João e Tiago, (como todos os apóstolos, tinham ligações ao Algarve), achavam que a Palavra do Senhor era «alcagoita». Chegaram a esta conclusão depois de terem proferido uma série de outras palavras. Na altura em que proferiram «alcagoita» aconteceram umas coisas esquisitas: a terra tremeu, a garrafa de vinho caiu de pé, e os cães começaram a uivar. E a partir daí, desconhecedores da Escala de Richter, acharam que tinham descoberto a Palavra.

Filipe, Bartolomeu e Tomé haviam decidido que a Palavra era «tramôces!», mas só porque gostavam do sabor e da sua sonoridade, dado que não há qualquer registo que algum fenómeno natural tenha ocorrido quando esta foi inicialmente pronunciada. Tomé era aquele que a usava mais, principalmente acompanhando umas «bejecas» nas margens do Mar Morto.

Tiago (havia dois), Mateus e Judas Tadeu, eram apologistas fervorosos da Palavra «Esturre», a última palavra que ouviram da boca de Jesus quando viu o Judas sair a meio da última ceia sem pagar “Iste chêra-ma`esturre”. Acreditavam piamente que se aquela foi a última palavra de Jesus, é porque aquilo devia ter um segundo sentido qualquer. Um sentido celestial. Imaginaram logo um local repleto de gente, repetindo: “Do Pai, do Filho e do Espírito Santo mas… Iste chêra-ma`esturre!

Finalmente, os dois apóstolos mais radicais, André e Simão tinham «feriado» como a verdadeira Palavra do Senhor. Mas acho que, passados mais de dois mil anos, ainda não entenderam bem o conceito. O que ele queria dizer e não lhe deram tempo de terminar o último módulo do workshop «Coisas Que Devemos Dizer Para Arranjar Mais Sócios», era que seriam três dias para gozar o luto pela sua crucificação, e mais uns quantos dias pelo renascimento!? No mínimo seriam uns cinco dias de licença de irmandade!?? Gentinha limitada, os teólogos…

Júlio Ferreira é um inconformado encartado

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