Turismo outra vez, sim! Faz precisamente um ano em que escrevia sobre «Turismo, o Renegado!». Começo por repetir-me: “O Turismo nunca foi visto na sua visão holística e integradora como um fenómeno social completo” e por isso estamos com diagnósticos sucessivos de uma caraterização de uma realidade que constantemente se repete, numa região com problemas estruturais por resolver, que condicionam fortemente a vida das populações e, claro, de per si o turismo.

Quando tudo está bem é a «Galinha dos ovos de ouro», quando tudo está mal surgem os discursos de Turismofobia e de impactos negativos desta atividade.

Relembramos os dados disponibilizados pelo IPDT sobre a importância do emprego no sector e do turismo na economia nacional. O turismo em 2019 era responsável – direta e indiretamente – por 2 em cada 10 empregos em Portugal; 1 em cada 5 euros gerados provinham desta atividade; em 2019, o turismo empregava 320 mil pessoas; nas atividades ligadas ao alojamento e à restauração – empregou diretamente 320 mil indivíduos; 6 em cada 10 trabalhadores do turismo são mulheres, contribuindo positivamente para a igualdade de género; reduziu a percentagem de pessoas empregadas com formação ao nível do ensino básico; 2 em cada 10 pessoas trabalham por conta própria, pelo que é um dos setores mais empreendedores da economia nacional.

Outros dados sobre a remuneração associada ao setor estão também disponíveis no IPDT, sendo certo que mais de dois anos de Pandemia tiveram efeitos sobre o sector que dificultam estabelecer comparações entre regiões e setores (
O EMPREGO NO SETOR DO TURISMO EM PORTUGAL - IPDT). Uma maior e melhor qualificação dos recursos humanos é fundamental e os dados não enganam: em 2019, 13% das pessoas empregadas em turismo tinham formação ao nível do Ensino Superior. Este valor em 2013 era de 7,1% e em 2016 permanecia nos 9,8%.

Também se encontra bem caracterizada a dinâmica impulsionada pelo Turismo na geração de emprego jovem: “Em 2019, 15% das pessoas empregadas em turismo tinha menos de 24 anos, um aumento de 2 pontos percentuais face a 2018. A média nacional no total da economia situava-se nos 6%. O setor destaca-se pelas oportunidades de emprego que cria para os mais jovens e sobretudo no que respeita ao primeiro emprego. A faixa etária entre 25 e os 34 anos (23%) representava uma parcela bastante superior à média do total da economia (19%), sublinhando a importância do turismo no emprego jovem”.

A investigação tem demonstrado que os efeitos da Pandemia geraram uma fuga de mão-de-obra para outros sectores de atividade e sabe-se que a maior dificuldade de recrutamento está nas funções menos qualificadas.

A regeneração e diversificação da economia só serão possíveis com a regeneração também do turismo e essa depende grandemente da qualificação dos seus recursos humanos, do seu capital humano. Há certamente muito a fazer. Recomendo uma leitura muito atenta da Declaração de Barcelona de 2018: «Melhores lugares para Viver, Melhores Lugares para Visitar» disponível em: 
Barcelona Declaration "Better Places to Live, Better Places to Visit" | NECSTOUR.

O turismo é a arte de vender felicidade

Estará o problema na qualificação dos Recursos Humanos e na formação que lhes é proporcionada? Claro que não. Verifica-se, entre outras, a necessidade de os decisores locais e regionais definirem ações concretas que promovam o equilíbrio entre o trabalho e a vida familiar, assim como devem identificar e promover medidas de valorização do emprego no turismo que permitam a continuação da atração e retenção de talentos para o setor. A criação de incentivos para promover investimentos em áreas-chave que possibilitem um trabalho menos sazonal e mais sustentável no Algarve; a análise e a exploração de propostas complementares de desenvolvimento humano, e bem-estar, ao longo do percurso profissional, com oportunidades de renovar competências e fazer formação, são algumas das medidas que estão identificadas.

Conceber mecanismos inovadores para monitorizar e avaliar as políticas de turismo relacionadas com o futuro do trabalho no setor era uma das conclusões apontadas pela Organização Mundial de Turismo (The Future of Work and Skills Development in Tourism – Policy Paper (e-unwto.org)), o que também a Região já está a fazer integrando com a dinamização direta da Universidade do Algarve, projetos como o Observatório para o Turismo Sustentável do Algarve, o KIPT – Laboratório Colaborativo para a Inovação no Turismo, o HoST Lab – Hospitality, Sustainability and Tourism Experiences Innovation Lab, entre tanta outra investigação e desenvolvimento que estão a procurar contribuir para a qualificação do destino Algarve e para a difusão do maior conhecimento possível entre a academia, o sector e os seus operadores.

Os discursos e as narrativas mediáticas possuem um efeito devastador e muitas vezes, não são informativos, usam dados parciais e remetem para comparações não comparáveis, procurando evidenciar um discurso sobre um aspeto menos positivo como forma de captar leitores e gerar comentário. Este fenómeno é semelhante ao efeito dos Facebook e outras redes sociais, e sabemos como precisam hoje crescentemente os jornais de ser lidos, pois outros estão a ocupar o seu espaço!

Sempre gostei desta ideia: o turismo é a arte de vender felicidade e nem todos a sabem vender, tal como em outras artes.[1]

Alexandra Rodrigues Gonçalves é diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve

Crónica publicada em:
REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #340 by Daniel Pina - Issuu

[1] A notícia infeliz partilhada no dia 18 de maio, Dia Internacional dos Museus, que o 365 Algarve estava morto e enterrado, mas que teria um sucedâneo revela mais um erro estratégico anunciado para a Região. São muitas as vozes que nas redes sociais dão alma ao seu descontentamento e tendo estado com responsabilidades regionais aquando da sua criação e nem sempre acordado com o modelo, neste momento escrevo para registar o bom caminho feito e o seu aperfeiçoamento, procurando ir ao encontro de uma estratégia regional de cultura e turismo. As sementes estavam a florescer, com a participação de agentes locais, regionais e dando dimensão profissionalizante e cariz nacional à produção cultural do e no Algarve, envolvendo empresários. Estes são projetos que qualificam a região e não sendo obra de betão e infraestruturas, criam raízes transformadoras.