Inaugurou, no dia 14 de maio, no Museu Municipal de Tavira – Palácio da Galeria, a exposição «A Natureza Detesta Linhas Rectas», de Gabriela Albergaria e com curadoria de Delfim Sardo, que estará patente até 8 de outubro.
Gabriela Albergaria (Vale de Cambra, 1965) tem vindo a desenvolver um percurso centrado nas questões da relação com a natureza e a forma como a representamos. «A Natureza Detesta Linhas Rectas» é a primeira exposição antológica da artista, percorrendo os últimos 18 anos do seu trabalho, nos vários suportes que tem vindo a utilizar, desde a escultura, ao desenho, passando pela fotografia e pela produção de múltiplos. “A questão central que a exposição apresenta é a da zona de fronteira e conflito entre a Natureza e o processo moderno da sua apropriação e dominação, tratada a partir de várias situações que recorrem à história das migrações das espécies vegetais, à sua utilização cultural e económica e, por fim, à sua violenta exploração. O campo de trabalho e pesquisa de Gabriela Albergaria tem sido, portanto, a Paisagem, entendida como construção humana, como organização estética, económica e sociocultural do território, não só marcada historicamente, mas também investida de sentidos políticos. O exemplo dos jardins está sempre presente, sobretudo porque, fazendo parte da nossa forma urbana de contacto com o natural, os jardins são de facto zonas complexas de negociação entre o desenho da sua arquitetura e as necessidades lúdicas, científicas ou celebratórias que presidiram à sua edificação”, explica Delfim Sardo.
Tendo vindo a constituir um dos campos de pesquisa mais importantes para Gabriela Albergaria, os jardins encontram-se permanentemente aludidos nas obras híbridas e simbióticas presentes nas várias salas da exposição do Museu Municipal de Tavira. E, além da reconstituição de uma obra de grande envergadura, central no percurso da artista, a exposição apresenta conjuntos de peças que resultaram de viagens realizadas na Amazónia ou no Redwood National Park, parque florestal norte-americano onde proliferam algumas das espécies mais marcantes desse continente. “É nelas que se revela de forma particularmente clara o impulso da artista para a inventariação e para o conhecimento quase científico dos mais diversos fenómenos do mundo vegetal – um conhecimento empático e empenhado em estabelecer relações materiais, estéticas e discursivas que nos revelem outras perspetivas sobre o nosso lugar e o nosso papel face ao mundo natural. «A Natureza Detesta Linhas Rectas é, portanto, não só uma reflexão crítica sobre a nossa relação com o natural, mas também sobre a forma como encaramos a representação da natureza e do seu tempo em nós”, reforça o curador da exposição.
«A Natureza Detesta Linhas Rectas» é organizada pela Culturgest, em Lisboa, onde esteve patente pela primeira vez entre o Outono de 2020 e a Primavera de 2021. A exposição reúne 27 obras, algumas delas produzidas especificamente para esta ocasião, pertencentes a diferentes coleções particulares e institucionais, como a Coleção de Arte Contemporânea do Estado ou a Coleção da Caixa Geral de Depósitos, e inclui ainda um pequeno vídeo documental com uma seleção de projetos que a artista realizou no espaço público.
O catálogo da exposição, numa edição bilingue português/inglês, reproduz a viagem que Gabriela Albergaria e Delfim Sardo desenharam inicialmente para as salas da Culturgest e que repensaram depois para o Museu Municipal de Tavira. A acompanhar as vistas da exposição, os textos de Delfim Sardo, Lúcia G. Lohmann, Mariana Pestana e Afonso Cruz explanam diferentes abordagens ao universo da artista e ao conjunto de obras que a exposição permitiu revisitar, contribuindo para um documento que inclui ainda uma secção dedicada aos mais significativos projetos públicos que Gabriela Albergaria realizou um pouco por todo o mundo.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #339 by Daniel Pina - Issuu