Expressão sem tradução literal em outra língua, e associada unicamente ao universo feminino, traduzia o ideal da mulher boa dona de casa, que na visão do Estado novo de Salazar, “tinha sempre muito que fazer em casa”. Fada do Lar foi também o nome de uma revista onde se encontravam sugestões e orientações para se SER a melhor dona de casa possível.

Como qualquer Fada que se preze, estas mulheres operavam verdadeira «magia» dentro das suas casas: não havia artes manuais que não dominassem na perfeição, onde se incluíam as rendas, bordados e costura; não havia receita de culinária que não experimentassem com sucesso, mesmo aquelas que demoravam três horas na preparação e que exigiam conhecimentos de culinária que, nos dias de hoje, só um chef que ganha mais de quatro dígitos de salário tem; sabiam todas as dicas e truques de limpeza com os poucos recursos que havia (ninguém sabia ainda o que era «Mistolin») para que a casa estivesse sempre «um brinco». As Fadas do Lar não tinham lençóis de cama, panos de cozinha e atoalhados amarelados porque sabiam como «branquear roupa». Os maridos das Fadas do Lar não tinham um único vinco nas suas calças de fato e os colarinhos das suas camisas estavam sempre impecáveis devido à habilidosa aplicação de goma nos mesmos.

Nas casas das Fadas do Lar, as camas estavam sempre impecavelmente feitas, ostentando as mais lindas colchas de crochet feitas por elas. “Esta demorei quase um ano a fazer”, diz uma Fada do Lar cheia de orgulho, a outra Fada do Lar! Nas casas das Fadas do Lar não há almofadas fora do sítio, e se o Zézinho as tira 100 vezes do sítio, a Fada do Lar coloca-as 100 vezes no sítio (com a paciência que só uma Fada do Lar tem). Nas casas das Fadas do Lar cheira sempre bem, ou porque as acabaram de limpar ou porque algum bolo, biscoitos, empadas ou assado acabou de sair do forno.

O tempo de ócio das Fadas do Lar é mínimo e, muitas vezes passado com outras Fadas do Lar a beber um chá a meio da tarde (não pode ser muito tarde porque os maridos chegam às 18h30 em ponto) onde se partilham receitas e conquistas domésticas. As Fadas do Lar não partilham tristezas porque isso era dar a «parte fraca», e ninguém tem que saber que o meu marido é um bruto de primeira…

Quando o marido da Fada do Lar chega a casa, como que por «magia», a mesa está posta com o jantar a fumegar, a Fada do Lar está impecavelmente pronta com o seu lindo avental de flores por cima do vestido de seda para o proteger de nódoas, não tem um único cabelo fora do sítio porque as Fadas do Lar nunca estão «descabeladas» e têm um lindo sorriso nos lábios com batom vermelho (ufa ainda tive tempo para pôr batom) para receber o seu esposo que se fartou de trabalhar o dia todo (coitado) para trazer sustento para a casa!

O Universo das Fadas pertence ao nosso imaginário e quero acreditar que se ainda existem algumas Fadas do Lar por aí, que seja porque o escolheram. Que NÓS, Mulheres tenhamos a liberdade de escolher, SEMPRE, a forma como queremos trazer MAGIA ao Mundo, sem imposições e obrigações!

Lina Messias é especialista em Feng Shui