Em Roma(*) na 10th Conferência Internacional Advances in Hospitality & Tourism Marketing and Management (AHTMM) viveu-se um verdadeiro ambiente de provocação sobre os desafios atuais e futuros do sector. Esta conferência internacional reúne a investigação recente destas áreas, com a presença de muitos dos editores-chefes dos principais jornais e revistas internacionais, tendo juntado 41 nacionalidades sobre o teto da Universidade de Roma (Sapienza Foundation). A Universidade do Algarve esteve representada com um conjunto de 7 professores e investigadores do CinTurs-Research Centre for Tourism, Sustainability and Well-Being que foram apresentar e partilhar a sua investigação aplicada.

Estes momentos são fundamentais para criar rede e apresentar o trabalho que se vai desenvolvendo, que no nosso caso versou sobre a redefinição do turismo cultural com base nas experiências virtuais e digitais, que hoje dão suporte a novas formas de visitação e de mediação do património cultural, tendo apresentado o projeto iHeritage e a plataforma desenvolvida no seu âmbito.

As apresentações introdutórias sobre Itália também revelaram muitos padrões comuns com o Mediterrâneo e com o comportamento do Destino Portugal e do Algarve, evidenciando uma forte procura pelas experiências enogastronómicas e pela valorização da cultura local e do autêntico, acompanhado pela atração das paisagens naturais. A sazonalidade continua acentuada e presente, mas o clima é de facto uma forte atração dos nossos destinos a que se associa a concentração de férias nas épocas alta e nas paragens escolares. Portanto, esta deixou de ser a questão, mas sim a procura de diversificação dos fluxos turísticos levando-os a outros lugares e uma aposta crescente em interesses e segmentos específicos.

É claro que os interesses dos investigadores por vezes estão mais em conseguir ter citações e procurar algo que possa gerar interesse, esquecendo a resolução dos problemas da «indústria», mas será na conjugação de esforços que a verdadeira cultura do turismo e da hotelaria se vai consolidando e tornado útil.

Contudo, não é essa a ideia principal desta crónica, mas sobretudo salientar as intervenções de dois dos keynote speakers da conferência: um primeiro – Manuel Alector Ribeiro, da Universidade de Surrey e também investigador do CinTurs – que demonstrou a preocupação com a introdução dos conceitos de diversidade, equidade e inclusão no estudo e investigação em turismo e na hotelaria, ainda muito incipiente (assunto que tencionamos recuperar noutro momento); mas em particular, destaca-se a intervenção de Youncheng Wang, que é o Diretor do Rosen College of Hospitality Management da Universidade Central da Florida, em Orlando, cuja intervenção se centrou, não só na demonstração de 20 anos de história de uma das instituições mais prestigiadas mundialmente na área da hotelaria e do turismo, mas como desenvolveu uma reflexão de como chegou até aqui e sobre os desafios do futuro.

O terreno do Rosen College of Hospitality Management da Universidade da Florida foi doado por uma família de hoteleiros em 2003 e assume-se hoje como o melhor resort para estudar. Nas suas infraestruturas conta para além do hotel e cozinhas de aplicação, com um parque de atrações, mas também com um grande complexo desportivo, assumindo que o futebol e os melhores atletas são porta de entrada para os melhores estudantes, e posicionando-se entre as instituições de topo no Shangai Ranking na área de investigação do Hospitality & Tourism. Os vários programas de licenciatura nas áreas dos eventos, da hotelaria e do turismo, a que acrescem mestrados e um doutoramento somam 3500 alunos, uma realidade que quase duplica da Universidade do Algarve.

A Hotelaria e o Turismo mais do que um conjunto de atividades ou uma indústria, é uma cultura

A ambição de chegar a este nível encontra-se entre nós, todavia, as infraestruturas de suporte para este desenvolvimento não são fáceis, contando nós este ano com 35 anos de história da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo. À nossa dimensão e em conjunto com a Faculdade de Economia, a Universidade do Algarve assume-se bem posicionada no Shanghai Ranking, ficando em 2022 nos lugares 76-100.

Mas rankings de parte, o discurso impressionou pela capacidade e qualidade da oferta no espaço de 20 anos, pelo posicionamento assumido de liderança na estruturação da inovação no sector e pelos valores anunciados: interdisciplinaridade como elemento fundamental; parcerias com o sector como estruturante e construção de uma cultura da hotelaria que ultrapassa a comida e a bebida, e o alojamento.

A formação e a educação do setor da Hotelaria e do Turismo requerem uma nova visão, uma visão que considere o coração, para além do pensamento e da execução. O conceito de viagem e de férias, associados ao desejo e ao prazer têm de estar no centro da organização dos destinos turísticos, e de todos os serviços e atividades que os englobam, tal como dizia no fim, vamos concluir que é tudo Hotelaria!

Temos de voltar a pensar e a sentir a Hotelaria e o Turismo mais do que como um conjunto de atividades ou uma indústria, como uma cultura! É uma forma de estar que merece maior reconhecimento e qualificação.

Nota: Foi uma oportunidade para constatar a saturação das infraestruturas aeroportuárias, Faro/Lisboa/Roma e a experiência de viagem em transporte aéreo nos dias que correm, com os seus atrasos e problemas de organização. Apenas a saída de Faro teve o voo na hora prevista, com o voo de Roma no regresso a sair com uma hora de atraso por saturação do espaço aéreo sobre Espanha, segundo explicação do comandante do voo.

Alexandra Rodrigues Gonçalves é Diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve

Crónica publicada em:

(*) pena que numa cidade em que o turismo é hoje a sua grande centralidade, pois como alguém afirmava deve ser a cidade com maior número de bens culturais identificados e classificados, exista um grau de ruído e poluição visível muito elevado.