Lol avait crié sans discontinuer des choses sensées : il n’était pas tard, l’heure d’été trompait. Elle avait supplié Michael Richardson de la croire. Mais comme ils continuaient à marcher - on avait essayé de l’en empêcher mais elle s’était dégagée - elle avait couru vers la porte, s’était jetée sur ses battants. La porte, enclenchée dans le sol, avait résisté.

Marguerite Duras


Como diz a música, “o amor jamais foi um sonho, eu bem sei, já provei e é um veneno medonho (…)”. O amor é algo que frequenta nossas vidas, se tivermos sorte, ou quem sabe, má-sorte. Porque nem sempre as histórias de amor acabam bem. Muitas se desgastam pelo convívio e pela aridez do quotidiano. Porque um ama cães e o outro, gatos. Porque nem sempre o que se dá é o que o outro quer receber, ou simplesmente porque um dos dois decide que já não quer mais. Como se a outra pessoa fosse algo, um objeto que perdeu seu valor e, como tal, merece ser deitado no lixo. Houve uma história que começou num final de tarde de verão. Entre buganvílias e um sol morno, quase a desaparecer. Uma mesa longa que não conseguia afastar os olhares trocados, quase tímidos. Mas cheios de curiosidade e de desejo. Um se aproxima do outro e começam a falar, ou melhor, a tentarem se entender, cada um na sua língua e com pouco domínio da língua do outro. Mas os olhos falam e disseram muito. Talvez a mecânica celeste tivesse maquinado para que aquele casal se encontrasse ali – numa terra estrangeira. E decidiram desbravar esta terra juntos. Cúmplices numa empreitada difícil – manter vivo o amor, apesar dos anos que passam, da idade que chega, dos percalços, do dia-a-dia, dos trabalhos, da vida ela mesma que se apresenta de rompante com seus altos e baixos. Manter vivo o amor que se julgava infinito – fruto de uma decisão comum de não se deixar vencer. Mas, como muitas outras histórias, essa também teve seu fim, prematuro, sem aviso prévio. Diz-se que o amor não mata. Mas mói. O amor é capaz de derrubar montanhas e de fazê-las, infelizmente, cair sobre nós. De amor se adoece, de amor se morre, de amor se sofre da mais profunda angústia – daquele momento de encontro com o real intransponível e indesejado. Com aquilo que não queremos ver de frente, mas somos obrigados a encarar. O amor pode matar, devastar, destruir qualquer um que se entregue sem reservas, que se dedique, ano após ano, a construir uma relação, um futuro. O amor mata o futuro, as fotos que já não serão tiradas, os planos que foram (des)feitos, as certezas. O amor mata aquele que ama demais.

Mirian Tavares é professora

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