Nos primeiros anos de ditadura, Albufeira viu muitos dos seus homens e mulheres serem levados para interrogatórios, por suspeitas de se rebelarem contra as ideias de António de Oliveira Salazar. Os anos de 1933-1935 registaram o maior número de detenções, crivadas pelo Decreto-Lei 23203 de 6 de novembro de 1933. Depois, todos os anos as prisões de Aljube, Caxias, Peniche e até o «campo de concentração» do Trafal receberam albufeirenses. Só no ano de 1952 foram detidos 22 conterrâneos. É de tudo isto que trata a exposição «Sopro de Liberdade», patente, até dia 4 de maio, na Galeria Municipal João Bailote, em Albufeira.

Da autoria do Município de Albufeira, a mostra pode ser visitada de segunda-feira a sábado, das 9h30 às 12h30 e das 13h30 às 17h30, e está dividida por três secções: «Testemunhos de Abril», composta por personalidades de Albufeira; «Presos políticos – Albufeirenses na prisão durante o Estado Novo»; e «Cartazes de Abril nas ruas de Albufeira». O destaque vai para a secção dos 54 albufeirenses, cinco dos quais mulheres, que foram detidos por serem voz e pensamento contra um regime de opressão.

A Prisão de Caxias, a Cadeia do Aljube e o Forte de Peniche foram o destino destes homens e mulheres, mas um deles, José Simão, padeiro de Albufeira, foi detido por posse de um revolver de 9mm, em Almodôvar (1/5/1949) e foi condenado a quatro anos de degredo no Tarrafal. Outro desses presos políticos foi Joaquim Vinhas Cabrita, proprietário da fábrica de frutos secos «Concentradora», que foi preso em Vilar Formoso e enviado inicialmente para a cadeia do Aljube. Foi, entretanto, transferido para o Hospital de São José, onde aguardou até ter sido libertado. Esteve detido de 23 de fevereiro a 31 de dezembro de 1938. Joaquim Vinhas Cabrita veio a tornar-se num dos grandes mentores do Turismo em Albufeira, tendo sido o fundador do Hotel Sol e Mar.

Todos estes presos políticos têm notas biográficas a ler atentamente, nomeadamente Vítor Cabrita Neto, que em novembro de 1997 foi convidado para Secretário de Estado do Turismo, cargo que ocupou até abril de 2002, nos XIII e XIV Governos Constitucionais de António Guterres, entre outros cargos políticos e diplomáticos. Natural da Guia, foi capturado quando ainda era um estudante, pelo Posto de Vilar Formoso para averiguações, tendo sido depois transferido pela PIDE para o Depósito de Presos de Caxias, onde permaneceu apenas dois dias, de 17 a 19 de julho de 1963.

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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