Continua em cena, até final de maio, às sextas, sábados e domingos, na sede do Boa Esperança Atlético Clube Portimonense, em Portimão, a nova revista à portuguesa do Boa Esperança, «Impostos – o que lhão de fazer». Com criação de Carlos Pacheco, que tem a seu lado na interpretação Telma Brazona, Flávio Vicente, Soraia Correia, Lurdes Carriçal e Isa de Brito, acompanhados pelas bailarinas Filipa Goulart Pereira, Maria Martins, Rita Ferreira, Catarina Duarte e Mariana Jobling, a revista continua fiel a si mesma, recheada de momentos hilariantes que não dão descanso à plateia e sempre de língua afiada para criticar, com muita ironia, mas sem nunca ultrapassar os limites do bom-senso, aquilo que vai andando mal neste país.

No início, já lá vão uns bons anos, quando o elenco ainda era constituído exclusivamente por homens e a companhia se assumia como meramente amadora, os espetáculos apontavam a sua mira apenas para a realidade local, para o que acontecia no concelho de Portimão. A chegada de Carlos Pacheco, também já há uns bons anitos, catapultou o Boa Esperança para um patamar superior, e muito mais profissional, pelo que a base de inspiração para os sketches teve necessariamente que extrapolar a base local e passar a olhar para o país como um todo. Porque o objetivo também se alterou, não interessava apenas fazer uma temporada de poucos meses na sede da coletividade, mas sim andar em digressão um pouco por todo o Algarve e pelo resto de Portugal.

E assim tem acontecido, graças à inigualável criatividade e imaginação de Carlos Pacheco, que acumula funções de ator, dramaturgo, encenador e presidente do Boa Esperança Atlético Clube Portimonense, e que conseguiu reunir a seu lado um elenco de atores muito talentosos e competentes. Mas o talento não basta no Boa Esperança, há que ter jogo de cintura, elasticidade e uma dose de loucura para acompanhar os improvisos de Carlos Pacheco, e que são muitos. Já se sabe que o teatro de revista à portuguesa é assim, há um guião perfeitamente delineado, toda a gente sabe o que tem que fazer, mas, quando as cortinas sobem e o espetáculo arranca, ele torna-se um ser vivo e dinâmico que é frequentemente influenciado por aquilo que acontece na plateia.

O segredo é rir com muita alegria e espontaneidade, mas sem demasiado alarido, muito menos ir com roupas espalhafatosas ou com adereços excessivos. O ideal é não chamar a atenção de Carlos Pacheco, porque ele é mestre em integrar os espetadores no espetáculo, com piadas lançadas, em momentos inesperados, e que dão azo a fortes gargalhadas. Mas, às vezes, basta-lhe ver um rosto conhecido na plateia, ou o familiar de alguém do elenco, para gerar novos improvisos. Tudo isto torna os espetáculos do Boa Esperança únicos, mas bastante exigentes para os atores que estão em cima do palco com Carlos Pacheco, que precisam ter estaleca para acompanhar o mestre nestes momentos e, depois, regressar de forma natural ao guião.

Bons textos, excelentes cenários e guarda-roupa, um corpo de bailado à altura, tudo contribui para o sucesso de «Impostos – o que lhão de fazer», onde não faltam as desventuras de um casal nas urgências do hospital e de dois defuntos que partilham a mesma campa do cemitério e que, para além de descobrirem alguns segredos das respetivas viúvas, ainda vão ter que pagar IMI depois de mortos; num concurso televisivo, o Algarve, o Alentejo e a Madeira pretendem ser a nova capital de Portugal; no paraíso as coisas não vão bem entre Adão e Eva, e ficam piores com a chegada de uma nova residente; e ainda temos o relato dos insucessos de uma empresária de restauração e respetivo chef de cozinha. Enfim, todas as palavras são poucas para descrever a experiência que é ir à revista à portuguesa do Boa Esperança, em exibição, em Portimão, até final de maio, antes de partir depois em digressão pelo resto da região e país.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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