Ouvi esta expressão vezes sem conta em tom de reprimenda sempre que, em tenra idade, apelidava alguém de velho!

Meio século e praticamente duas gerações depois, a forma como envelhecemos e encaramos a velhice mudou de forma profunda; quando eu nasci, os meus avós eram mais novos que eu enquanto escrevo este artigo, mas quando olho as fotos nos álbuns de família, as diferenças são imensas.

No tempo em que pouco ou nada se falava e havia de dietas, cremes, procedimentos estéticos e muitos outros «anti aging» ou «slow aging», a aparência acusava muito mais a idade, mas a forma de tratar e olhar para os mais velhos era sem dúvida com um maior respeito e até veneração por quem tinha mais anos e experiência de vida.

Historicamente, em muitas sociedades, os mais velhos eram respeitados, consultados e reverenciados pela sua sabedoria e experiência. Na cultura celta, os anciãos eram consultados nas questões mais importantes, tanto individuais quanto comunitárias. As suas opiniões e decisões eram altamente valorizadas, e eles desempenhavam um papel central na resolução de disputas e na tomada de decisões que afetavam a comunidade como um todo. Muitas vezes eram os anciãos celtas que ocupavam as posições de liderança formal dentro das tribos e que estavam encarregues de garantir a coesão social e o bem-estar da comunidade e eram reverenciados como guardiões da tradição, da sabedoria e da comunidade, com o papel fundamental na preservação da identidade cultural celta e na orientação das futuras gerações. Noutras culturas antigas, como a grega e romana, os idosos também desempenhavam papéis importantes como conselheiros e líderes comunitários, partilhando conhecimento com a devida autoridade como mestres e sábios.

Em muitas culturas tradicionais, os mais velhos frequentemente viviam com as suas famílias e eram cuidados pelos membros mais jovens, que reconheciam a sua importância na transmissão de conhecimentos e valores.

Cheguei à dita idade em que, como muitos, tenho que assumir o papel de «pais» dos nossos pais, e por razões várias apercebi-me de uma realidade que me deixa desolada. Segundo uma estimativa do Ministério da Saúde, por ano, ocorrem cerca de 100 a 150 situações de abandono de idosos nos hospitais portugueses e, segundo um estudo da Organização Internacional do Trabalho, Portugal é dos países da Europa onde as pessoas idosas mais são abandonadas.

Estes dados são um «murro no estomago» e um verdadeiro desafio para a nossa sociedade! Esperar por medidas que melhorem esta realidade pode levar décadas ou mesmo gerações… há factores sociais, culturais e financeiros que influenciam estas estatísticas e acredito que cada um de nós tem a responsabilidade de reverter esta tendência.

Realmente, velhos são os trapos, envelhecer o corpo é um sinal natural da passagem do tempo, mas dar vida à alma é possível até ao último dia da nossa existência; é o tédio dos dias que nos envelhece e o acordar sem sentido de propósito; o que nos envelhece é não ter ninguém a quem chamar de amigo, não ter um jardim ou horta para cuidar ou uma causa para lutar e perder a vontade de estudar.

O que nos envelhece é não ter ninguém para partilhar o vinho e a VIDA.

Lina Messias é especialista em Feng Shui

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