Através das reações a certos textos publicados nalguma imprensa escrita e em determinadas redes sociais é possível observar que a forma como as palavras são escolhidas e se conjugam, expressando assim uma ideia ou um ideal, provocam nos leitores reações e apreciações completamente díspares. Quem escreve regularmente sabe-o, seja através do ostracismo e desinteresse a que um texto ou uma opinião são votados por uns, por comparação com a glorificação e exultação manifestadas por outros.

Como facilmente associamos a palavra crítica a avaliação e a julgamento, prefiro usar a apreciação como forma de observar e relatar o que me rodeia. Parto, por isso, para a leitura tentando apreciar e enfatizar o que me foi dado a ler, o que me ajuda a transportar o conteúdo de maneira mais efetiva para situações práticas por mim já imaginadas ou vivenciadas. Ao valorizar certas passagens, envolvo-me mais profundamente com o texto, criando uma conexão emocional e/ou intelectual com o mesmo.

Tento não menosprezar um texto ou parte dele, pois poderei correr o risco de deixar de lado informações relevantes ou valiosas, o que pode prejudicar a compreensão global do seu conteúdo. Sabendo que os preconceitos e julgamentos prévios poder-me-ão levar a depreciar uma ideia ou um autor, deixando de considerar argumentos válidos ou diferentes perspetivas, luto contra esses sentimentos próprios da mesquinhez e baixeza humanas.

Idealmente, um leitor sabe quando deve enfatizar e quando deve deixar de lado certos aspetos. Nem tudo num texto é igualmente importante e parte da competência do leitor é saber identificar o que merece a sua especial atenção. Fala-se e escreve-se muito sobre bons escritores, deixando de fora da equação os bons leitores. Há que aprender a sê-lo – leitores que efetivamente leem. Enfatizar o que se lê, geralmente traz-nos benefícios na aprendizagem, na reflexão e na fruição, ensinando-nos, ao mesmo tempo, a evitar sobrecarregarmo-nos com detalhes desnecessários.

Ao ler é importante captarmos o tema principal e os detalhes relevantes, identificar o tom, a intenção e o estilo do autor e fazer inferências e ler nas entrelinhas. Para que tal aconteça é preciso concentração e foco, possuir um vocabulário amplo, ser curioso e estar aberto a novos temas, fazer uma leitura crítica e analítica, ser paciente e persistente, ter capacidade de síntese, ter familiaridade com diferentes tipos de texto e, se for necessário, reler e refletir sobre o que foi lido.

Sabendo que a interpretação da leitura pode ocorrer de várias formas, e isso depende do contexto, da experiência do leitor e do propósito do texto, cada um poderá interpretar o que lê como bem entender. De forma literal, crítica, subjetiva, simbólica, contextual, psicológica e/ou estrutural, qualquer uma dessas abordagens pode ser usada de forma isolada ou combinada, dependendo do objetivo da leitura e do tipo de texto que está a ser analisado. No fundo, o que realmente interessa é que para além de bons escritores se construam também bons leitores.

Tal como muitas coisas que fazemos na vida, não basta aprender a ler, é também necessário experienciar a leitura como fonte de conhecimento e de prazer. Porque quem da leitura retira prazer, prazer dá a quem escreve!

Paulo Cunha é professor

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Foto: Daniel Santos