No âmbito do Algarve Tech Hub Summit a decorrer em Albufeira desafiaram-nos a falar sobre o futuro da educação e responder à questão: How to Become A Learning Region?
Os convidados que nos acompanharam apresentaram abordagens mais ou menos inovadoras, desafiantes ou inconformadas. Para nós, uma oportunidade para parar, para pensar e também para ler algumas coisas sobre o assunto. Há vários documentos orientadores sobre o que deve ser uma «Learning Region» (região de conhecimento), nomeadamente relatórios da UNESCO.
O conceito emerge em 1990 destacando a necessidade de cooperação e de criação de redes para uma aprendizagem coletiva. O conceito tem-se revelado flexível e com diferentes significados geográficos. A ideia que se destaca é que a inovação acontece num processo de relação de muita proximidade com o território e forma dependente das instituições, empresariais e de educação, e dos contextos culturais.
Os estudos disponíveis falam-nos em três pilares fundamentais: investimento na educação; atração de investigação e desenvolvimento de fora da região; construção de redes intra e inter-regionais de inovação.
A abordagem norte americana, do conceito de região de conhecimento, coloca a enfase no papel da função social e na promoção de uma aprendizagem interativa com base em redes entre empresas, enquanto, em termos europeus, emerge como fundamental a qualidade da infraestrutura do conhecimento e a atração de mão de obra qualificada (os tais talentos que importa não só atrair como também reter).
Uma cooperação horizontal entre diferentes atores é apontada como fundamental em toda a documentação consultada e inclui a existência de centros tecnológicos, de redes de inovação e de pesquisa de mercado.
Um espaço de conhecimento e aprendizagem regional necessita, para ser real: da promoção de um ensino mais inclusivo, desde o ensino básico ao ensino superior; da revitalização do valor e reconhecimento do ensino entre as famílias e a comunidade; do uso alargado de tecnologias no ensino; da facilitação da formação no local de trabalho; do aumento da qualidade e da excelência no Ensino; e finalmente, do desenvolvimento de uma cultura de aprendizagem ao longo da vida.
A UNESCO desenvolveu um relatório sobre comunidades em espaço urbano e identifica 12 estudos de caso de interesse, retratando aprofundadamente 12 cidades enquanto territórios de conhecimento (nenhuma delas em Portugal). Uma cultura de aprendizagem parece ser o principal elemento para conseguir o empoderamento da comunidade e para isso são necessários novos instrumentos, novas técnicas, parcerias, capazes de criar emprego que envolvam os cidadãos num projeto de uma cidadania ativa.
Uma governança regional para a educação
A aprendizagem é um processo contínuo e esta uma análise complexa, mas como podemos desbloquear as nossas limitações? Com mais trabalho em rede, pois não é a investigação e o desenvolvimento que são centrais nesta problemática, mas um modelo de desenvolvimento que nos ajude tem de partir da base para o topo.
Na discussão levada a cabo, para além do ecossistema de tecnologia, empreendedorismo e inovação, que começa a ficar sedimentado na região, com o elevado contributo da Algarve Evolution e da Algarve STP, reconheceu-se a necessidade de interlocução regional para esta «Learning region», na medida em que as políticas e estratégias públicas existentes têm de ser alinhadas com os contextos diferenciados das regiões, para conseguirem ser concretizadas[1].
Um Plano de Desenvolvimento das Aprendizagens para toda a comunidade pode ser uma aposta de relevo, pois permite uma melhor gestão na utilização dos recursos, assim como melhorias na identificação de necessidades de ofertas e de competências, mas necessita de agregação e de rede que neste momento não existe de forma organizada. A iniciativa dos diferentes agentes do conhecimento necessita de um enquadramento – não só de regulação – que promova resposta a necessidades de forma agregadora e potencie sinergias, evitando atropelamentos ou sobreposições. Mas necessita também de estratégias e planos de ação concertados, pois o capital humano qualificado é um dos elementos catalisadores na essência de qualquer desenvolvimento territorial e não podemos continuar na cauda do país com taxas de escolarização do ensino superior muito abaixo da média nacional.
Há uma importante constatação de que uma diversificação económica regional dependerá muito do conhecimento e das competências existentes regionalmente, ainda que o sucesso nunca se explique com base num único fator.
Por um Algarve centro de conhecimento deixa-se um desafio final para reflexão: a rede regional de governança é a adequada ao suporte e desenvolvimento de um território de conhecimento? Os resultados definidos para a estratégia de ensino, investigação e desenvolvimento regional estão a ser alcançados?
Alexandra Rodrigues Gonçalves é diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve
Crónica publicada em:
REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #455 by Daniel Pina - Issuu
[1] João J. Ferreira, Luís Farinha, Roel Rutten & Björn Asheim (2021) Smart Specialisation and learning regions as a competitive strategy for less developed regions, Regional Studies, 55:3, 373-376, DOI: 10.1080/00343404.2021.1891216.
[1] João J. Ferreira, Luís Farinha, Roel Rutten & Björn Asheim (2021) Smart Specialisation and learning regions as a competitive strategy for less developed regions, Regional Studies, 55:3, 373-376, DOI: 10.1080/00343404.2021.1891216.