Sempre me encantaram os campus universitários. Talvez porque os vejo como imensos casulos de esperança onde todos os sonhos podem sofrer metamorfoses, ganhar asas e voar até ao infinito.

O primeiro contacto com um verdadeiro campus foi na Universidade de Aveiro, ainda antes de iniciar lá pós-doutoramento. O meu primeiro conceito de um campus universitário, quer se situe em Portugal, nos Estados Unidos ou na China, é um imenso relvado de esperança e de futuro, povoado de juventude e vida. Ao contrário do que sucede numa escola básica e secundária onde reina o caos do crescimento, da indefinição adolescente, povoada de conflitos, de desafios, de fronteiras a medir pela quebra das regras, na universidade, já tudo isso foi ultrapassado. Vive-se a descoberta, mas já com uma maturidade que silenciou as dores da adolescência. Inicia-se a idade marcada pela plenitude tanto a nível físico como intelectual.

Em Macau vivi, durante sete anos, no Campus da Universidade de Macau, na ilha de Henqin. Um campus de muitos lagos, relvas, pontes, mas com menos vida dos que os das universidades americanas e de outros locais que fui conhecendo, ao longo da carreira académica. A relva era um lugar um tanto ou quanto sagrado que não servia para conviver, para namorar, ou simplesmente se ficar deitado a conversar silenciosamente com as nuvens. Outra particularidade deste meu campus era o muro que o cercava e que nos separava da China continental. Na verdade, a Ilha da Montanha já se encontrava em território pertencente à cidade fronteiriça de Zhuhai, do ponto de vista geográfico. Contudo, em termos administrativos, pertencíamos à Região Autónoma Especial de Macau, uma vez que o governo pagava uma renda por aquele quilómetro quadrado onde se situava a Universidade. Uma pequena bolha inserida noutra maior. Era, pois, um lugar tranquilo, onde tínhamos alguns serviços essenciais como supermercado, posto médico, restaurantes, cafés.

Não obstante, o que confere título a esta crónica é o último que conheci, no ano passado e onde fiquei alojada durante uma semana, quando me desloquei a Paris para participar num Colóquio. Um campus verdadeiramente multicultural, onde se albergam as casas dos diversos países, neste caso, 42, congregando estudantes e académicos de 140 países – no meu caso, fiquei na residência Diogo de Gouveia, a Casa de Portugal, mas encontrei um doutorando brasileiro que estava alojado na da Coreia do Sul, por exemplo, cujo restaurante frequentei diversas vezes, a lembrar os meus tempos asiáticos.

As origens da Cidade Universitária de Paris remontam ao início do século XX, quando a Europa sarava ainda as feridas da primeira Guerra Mundial. Foi então que o ministro da Educação francês André Honnorat imaginou um lugar onde estudantes de todo o mundo que acorriam a Paris travariam amizade, partilhariam culturas e construiriam a paz do futuro, sob o lema «paz e harmonia entre os povos». Se nos tempos que correm, as utopias parecem algo de outra galáxia, é bom saber que ela existiu, se realizou e com maiores ou menores imperfeições, o seu fruto continua bem vivo naquele campus onde apetece viver – pelo menos eu senti esse desejo.

Com efeito, neste tão convulso século XXI, dilacerado por guerras que se acreditava não regressarem, por conflitos de todos os tipos, pelas mais variadas descriminações, interrogamo-nos onde poderemos encontrar a esperança. Continuo a acreditar, seguindo a linha de Honnorat, que ela pode nascer num qualquer campus universitário, solo onde sempre germinarão as sementes do futuro.

Dora Gago é professora

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