O Município de Lagos não concorda com a eventual concessão de um Título de Atividade Aquícola (TAA) relativo à expansão de um estabelecimento de culturas em águas marinhas na costa sul do concelho vizinho de Vila do Bispo, o qual poderá prejudicar a pesca, a náutica e o turismo e, consequentemente, a economia e tecido social local e algarvios. A expansão desta exploração pela empresa Finisterra S. A. destina-se à produção de Mexilhão-do-Mediterrâneo (Mytilus galloprovincialis), em regime extensivo, entre a Ponta dos Caminhos e Ponta do Torre (Vila do Bispo), representando uma área total de 2 milhões, 956 mil e 955 metros quadrados.

Segundo a autarquia lacobrigense, nesta zona de mar, centenas de embarcações de pesca artesanal exercem a sua faina, impactando negativamente a sua atividade e fontes de rendimento de mais de 300 famílias. Em adição, a área em causa constitui uma zona de pesca com valor significativo na captura de pelágicos (sardinha, carapau e cavala), espécies demersais e moluscos (besugo e polvo), mariscos, entre outas espécies. Também a náutica (recreio, turismo de mar, eventos, operadores marítimo-turísticos, reparações navais) será afetada por esta exploração, acarretando consequências nefastas para o concelho de Lagos, bastante ligado a esta valência. Tendo em conta o habitual tráfego marítimo na costa do barlavento algarvio, incorre também o risco de que as embarcações de recreio possam afastar-se ou até evitar atracar em território nacional.

A segurança é outra das preocupações do Município de Lagos, dado que este tipo de infraestrutura envolve equipamentos (cabos e boias) que condicionam a navegação, muitas vezes com deficiente sinalização que, associadas aos ventos e correntes, podem ser um perigo para pessoas e bens, para além dos danos na reputação relativamente às atividades de mar no território. Apesar de reconhecer a importância da aquacultura em mar aberto e os seus contributos para a economia do país, perante os efeitos prejudiciais desta exploração nas atividades piscatórias e náuticas, turismo e economia local, a Câmara Municipal de Lagos manifestou junto da Direção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos a sua total discordância em relação à concessão do TAA à empresa Finisterra, aproveitando para alertar para a necessidade de se reavaliar a legislação reguladora deste tipo de atividade de forma a ter em conta os impactos negativos nas regiões e implementar instrumentos de fiscalização mais eficazes.

Legenda da figura em anexo: Tráfego da náutica de recreio e lazer entre a Ponta de Sagres e a Baia de Lagos. Explorações já existentes assinaladas com setas pretas. Área de expansão Finisterra 1 assinalada com retângulo tracejado a vermelho. A linha preta representa o circuito mais curto utilizado atualmente e o tracejado a preto o rumo que o tráfego passará a seguir.