“Cultura é tudo o que lembramos depois de esquecer tudo o que aprendemos”. Frase proferida por Selma Lagerlöf, escritora sueca e vencedora do Prémio Nobel da literatura em 1909. Seria depois referenciada e repetida por vários outros agentes culturais como os franceses André Maurois, romancista e ensaísta, ou o político Édouard Herriot, assenta certamente em alguém que tenha conhecimentos gerais tais como sociedade, política, acontecimentos passados e contemporâneos, artes, desportos, geografia, etc. etc... quem domine mais ou menos estas matérias normalmente apelidamos de uma «pessoa culta» e que faz parte ou passou por norma pelo meio académico. Mas cultura é só e estritamente isto?

Muito conhecimento, sobretudo de matérias que não são comuns entre o povo em geral e assumindo assim obrigatoriamente uma postura erudita? E então onde fica a cultura popular? Quando dizemos que estamos num processo de aculturação sobre determinada matéria, costumes de um país ou região, religião e crenças, no fundo assumindo uma postura antropóloga, em que patamar nos situamos? É claro que estaremos num processo de aprendizagem e que serve sobretudo para melhor integração numa determinada realidade que não é habitualmente a nossa. Isso porque cada estado ou pequena região possui a sua cultura tipicamente local, com diferentes comidas, estilos musicais, comportamentos, dialetos e outros aspetos, que criam a identidade de um determinado grupo social.

Parafraseando um famoso estudioso britânico Edward Burnett Tylor, poderemos afirmar que cultura inclui o “conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. Parece-me na verdade bem completa esta dedução.

E então onde entra o Dr. Google? Não raras vezes com amigos à mesa, e se por acaso a conversa traz à baila um nome de terra, personagem ou outro qualquer nome desconhecido, logo há alguém que agarra o telemóvel para ficar esclarecido e até informar os outros. Dentro desta lógica, quase que vale a pena deduzir que afinal ser culto vale muito pouco, pois se existe tal recurso… Puro engano, pois, se dias depois a mesma situação se repetir com os mesmos nomes, a reação vai ser a mesma, o que prova que o google ajuda e esclarece momentaneamente, mas não funciona como preservador de conhecimento. Na verdade, se cultura erudita são a ópera, música clássica, ballet, pinturas e esculturas, o Malhão, o corridinho, o samba, etc., são parte da cultura popular. A diferença é que, enquanto aquela exige um maior estudo e aprofundamento das origens tendo o conhecimento intelectual como base, não quer dizer que a popular também não exija alguma atenção, sobretudo quando pretendemos aprender a executar instrumentos musicais, danças, etc.

Palavra de origem latina, colere, que significa cuidar, cultivar e crescer apresenta muitas derivações, como Agricultura, Fisiocultura, e outras, sendo ainda mãe de outros conceitos como cultura de massa, cultura material e imaterial, entre outras. Voltaremos decerto a esta temática que, quase sem nos darmos conta, de um modo ou de outro faz parte das nossas vivências diárias.

Valentim Filipe é músico, professor aposentado e dirigente associativo

Crónica publicada em: