O Papa Francisco terá admitido que pode abdicar ou morrer devido aos problemas graves de saúde e até já planeou o seu próprio funeral. Segundo consta, o Sumo Pontífice com 88 anos tem estado a «fechar pendentes» e prepara nomeações para cargos importantes que garantam a proteção do seu legado e a participação em discussões à porta fechada antes do conclave que elegerá o novo Papa. Os próximos dias ou semanas irão ditar o futuro de Francisco e da Igreja, sendo que, mediante esta realidade, o filme «Conclave», grande candidato aos «Oscars», não podia ser mais atual, ajudando-nos a perceber como se decide quem será o novo Papa. A apreensão é grande em relação ao seu estado de saúde, colocando-se, naturalmente e realisticamente, em cima da mesa, a possibilidade de uma eventual sucessão.
Vi o filme (recomendo) e passei a última semana a ler e ouvir falar do conclave dos cardeais do Vaticano. O conclave é um ritual praticamente inalterado há oito séculos: foi o Papa Gregório X que usou pela primeira vez a palavra em 1274 e instituiu a base dos atuais conclaves, por meio da constituição. O filme é um decalcar da realidade, que vou generosamente, à boa maneira cristã, partilhar convosco. Há alguns séculos, e como a corrupção era mais que muita (como veem, nada mudou em tantos séculos), os reis eram obrigados a pagar uma pipa de massa ao seu candidato (um bocadinho à semelhança do financiamento das campanhas eleitorais hoje em dia). A sucessão do Papa era influenciada e designada pela nobreza. Os nobres é que decidiam quem ia gerir os destinos de todas as alminhas perdidas deste mundo e passear no papamóvel da altura.
Nessa época, havia uma enorme promiscuidade entre a política dos nobres e a da Igreja, e pessoas sem qualquer formação religiosa - ou sequer interesse na vida religiosa - podiam chegar ao Trono de Pedro. A influência do Papa foi crescendo ao longo dos anos por todo o Mundo, com ponto alto para esse primeiro franchise de grande sucesso: a Inquisição. Um exercício de puro fanatismo religioso que deixaria a Al Qaeda com complexos. Tantos anos depois… nada mudou! Os interesses e as guerras internas na igreja (bem demonstrada no filme) continuam a influenciar na escolha do Papa. Mas desta vez Portugal tem um candidato muito bem posicionado para ser o próximo a sentar no trono de S. Pedro. Recorde-se que em Portugal se viu com entusiasmo a notícia de que o Cardeal Tolentino Mendonça iria substituir o Papa numa das suas missas no Vaticano, durante o fim de semana. Segundo algumas fontes, ele faz parte da lista de possíveis sucessores. Esperando nós que já tenham ultrapassado aquele diferendo que tem alguns aninhos. Aquele tuga, que prometeu pagar uns trocos ao Papa vigente para transformar este território num país, e que depois o enganou à campeão e nunca lhe deu um chavo (se os gajos que vieram a seguir lhe tivessem seguido o exemplo, a igreja não teria estragado tanta coisa por aqui). Não haja dúvida que se havia gajo que sabia fundar era ele.
Mas do nada, já surgiram os primeiros estudos/sondagens onde perguntam aos portugueses que nacionalidade é que estes achavam que o novo Papa devia ter. Surpresa das surpresas, a nacionalidade portuguesa foi a escolha de larga maioria. Para este tipo de sondagem imbecis temos resultados idiotas. Porque raio existem inquiridos que não querem um Papa luso? Será porque desconfiam tanto do poder de gestão dos conterrâneos que nem para gerir as alminhas dão uma abébia a mais um Papa tuga?
Sim, já tivemos um Papa português! O único até agora foi João XXI. Não granjeou no seu breve pontificado 1276/1277 (de pouco mais de 8 meses) muita simpatia. Pedro Hispano teve uma morte trágica, sobre a sua cabeça caiu o teto enquanto inspecionava as obras no seu palácio de Viterbo, onde o Papa habitava. Alguns autores procuraram servir-se das próprias circunstâncias da morte de Pedro Hispano (segundo as más línguas) como uma prova do seu carácter malévolo. Mas passados tantos anos merecemos mais uma oportunidade. E já agora, sem qualquer interesse, nem fazendo ideia de como me lembrei disto, fica a sugestão para que o próximo Papa Tuga (ou outro, não sou esquisito) adote o nome Júlio IV. Só por ser um nome clássico e atemporal, apreciado por sua sonoridade forte e marcante… nada mais.
Depois de tudo o que li, o Papa Francisco é, de facto, muito melhor que a maioria dos que lá passaram. Populista ou não, tem tomado medidas que tornam a Igreja menos má. Existiu até aos dias de hoje um número impressionante de sumos sacerdotes da Igreja Católica que agiu de forma totalmente contrária aos ensinamentos cristãos. Durante a Idade Média não faltaram papas que foram especialistas em conspirações, assassinatos, massacres, estupros e até bruxarias. Por tudo isto, e como a (má) fama vem de longe, será bom (digo eu) que a Igreja Católica tenha um líder que recuse a ostentação que era prática comum até aqui. O anterior (para não recuar muito no tempo dava palestras contra o consumismo sentado numa poltrona em talha dourada e com uns sapatinhos Versace. Este Papa disse que: “É possível rir também de Deus? É claro que sim, isto não é blasfémia, assim como brincamos e fazemos piadas com as pessoas que amamos. A tradição sapiencial e literária hebraica é mestra nisso! Pode ser feito, mas sem ofender os sentimentos religiosos dos fiéis, especialmente dos pobres”. O Papa Francisco apareceu na altura certa e com o carisma e diálogo certos para aproximar os mais jovens da Igreja e fazer com que os que não se reveem nela não a odeiem assim tanto. Também, convenhamos, depois do Ratzinger qualquer um ia cair em boas graças. O Papa Francisco é de facto uma criatura simpática a quem só apetece dar um forte abraço, não por ser um Papa Católico, mas sim pelo facto de já ter sido porteiro de discoteca nos seus tempos de juventude. O Francisco, ao contrário dos porteiros das discotecas da Praia da Rocha nos anos 80 e 90, parece genuinamente um gajo porreiro, um avô fixe que todos gostaríamos de ter. Acredito que o seja mesmo, mas acredito também que tenha um departamento de marketing muito bom por trás, que percebeu o que era preciso na Igreja Católica nesta fase. Não me iludo, a Igreja Católica é acima de tudo um negócio, que tal como todos os negócios quer é gerar dinheiro e guia-se por essa linha, ficando as convicções morais para segundo plano. Abriu as portas aos gays, aos divorciados, esses monstros. No entanto, o Papa Francisco não conseguiu convencer os «vecchi di Restelo» do Vaticano. Foi um bom passo, foi bonito, mas ficou tudo na mesma. Juntou-se e rezou com líderes de outras igrejas, num gesto de paz único, mas o mundo continua a rebentar-se todos os dias em nome de Deus, Alá ou outro qualquer. O hábito não faz o monge e o Papa não faz uma Igreja, mas pode ajudar na mudança.
Aguenta-te Xico!!!
Júlio Ferreira é um inconformado encartado
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