Declamado pela voz de João Pedro Caliço e José Teiga, o texto «Sexto Olhar», da autoria de Lídia Jorge, inspirou o debate sobre o passado, presente e futuro de Loulé que marcou o 37.º aniversário desta cidade algarvia no dia 1 de fevereiro.
Em vez das tradicionais inaugurações ou dos balanços políticos que costumam marcar a data, a Câmara Municipal de Loulé decidiu celebrar o dia de uma forma diferente, dando a palavra aos cidadãos, ouvindo a forma como veem e sentem a cidade, e como esta evoluiu nos últimos anos, a sua relação afetiva com a terra e os sonhos para o futuro. Seis louletanos (de nascença ou de coração) trouxeram para o debate uma reflexão sobre a cidade que é sede do maior concelho algarvio. “Loulé é uma cidade conhecida por ser habitada e vivida ao longo de muito tempo por gente com uma forte autoestima. É isso que nos faz ir mais longe, aceitar a nossa diferença coletiva, e que nos permite hoje, num mundo sombrio, ter esperança quanto ao futuro”, disse o autarca Vítor Aleixo na abertura desta mesa-redonda.
Até à década de 60, Loulé era uma vila com escassas infraestruturas e uma forte emigração (quem saía já não regressava), mas com a chegada da democracia “deu-se o movimento oposto”, recordou a escritora Lídia Jorge, uma das convidadas desta iniciativa. “Não só as pessoas começam a gostar de viver em Loulé, como esta se torna uma pátria de acolhimento para pessoas que vêm de toda a parte da Europa e do mundo. Loulé hoje tem um rosto completamente diferente daquele que tinha nos anos 60”, notou esta ilustre filha da terra.
Lídia Jorge trouxe à memória de todos a antiga vila de artificies e artesãos, marcada “pelo ruído dos caldeireiros nas ruas a bater nos metais”, a «praça», a Mãe Soberana, o Carnaval, o ciclismo e, nas Artes e nas Letras, o nome de António Aleixo como “um selo da cidade”. “A população sempre foi de grande vitalidade, com uma inquietação, uma vivacidade, uma movimentação e uma genica especial que nos fazia pensar que havia aqui uma espécie de sangue espanhol”, assinalou a escritora.
Memórias mais recentes desse tempo em que Loulé ainda era vila tem a jovem investigadora e médica, Helena Guerreiro. Com uma carreira fora do país, e depois de ter vivido em cinco países, regressou recentemente a Loulé para integrar o projeto do ABC – Algarve Biomedical Center na cidade. “Há mais de 20 anos atrás, quando comecei a estudar, era impensável fazer investigação aqui. O ABC permitiu-me voltar e fazer o que fazia fora. Permitiu trazer para o Algarve algo que é fundamental para fixar talento, um espaço onde os jovens podem desenvolver as suas ideias, tentando trazer a investigação o mais próximo das pessoas”, explicou a coordenadora do Imaging Lab by ABC, que destacou a pertinência para a região do trabalho que está a ser desenvolvido pela instituição, por exemplo na área do envelhecimento, que mostra bem a vontade de fazer do Algarve “algo mais do que o turismo”.
A Mãe Soberana é um elemento indissociável do ser-se louletano e, neste debate, não poderia faltar um dos rostos deste culto mariano. Durante 40 anos, Horácio Ferreira transportou o andor da Nossa Senhora da Piedade e garante que a genica e vitalidade dos homens do andor “advém do facto de serem de Loulé”. Para ele, a Mãe Soberana “é o fio condutor e o elo de ligação dos louletanos”, sejam católicos ou não.
Nélson Ponte, empresário da restauração, adquiriu recentemente um espaço icónico da cidade, o Café Delfim, precisamente por ser louletano e pelo amor à sua terra, “e não tanto pela questão economicista e oportunidade de negócio”. “Era o último bastião louletano, o espaço onde encontrávamos toda a gente independentemente do estrato social e faixa etária. Isso é tão difícil de encontrar numa cidade hoje em dia e Loulé ainda tem essa magia”, considerou. Neste momento, o espaço está a ser alvo de uma profunda intervenção e espera-se que volte a ser ponto de encontro na cidade.
Não é louletano de nascença, mas já o é de coração. Sérgio Leite dirige o Conservatório de Música de Loulé «Professor Francisco Rosado» desde 2019 e, neste debate, falou do “poder transformador” para a cidade e para os alunos daquele que é o “o único Conservatório em Portugal continental e Ilhas que nasce público”. Com um trabalho com alunos dos 6 aos 18 anos, o Conservatório tem uma oferta que inclui a formação em 21 instrumentos e canto, o que poderá ter impacto para criar músicos profissionais na região, nomeadamente para dotar a Orquestra do Algarve de elementos naturais da região.
De uma infância vivida na Serra do Caldeirão, numa altura em que a eletricidade ainda aqui não tinha chegado, à vida adulta em Lisboa, a advogada e cronista Carmo Afonso destacou o facto de Loulé ser uma cidade “que sempre acolheu muito bem”. “Loulé é uma cidade que continua a ter lugar para toda a gente. Combina modernidade com raízes. Absorve quem está de passagem, absorve ventos novos, culturas, mas ao mesmo tempo continua ligado a uma raiz preciosa para a cidade”, notou.
Nélson Ponte, empresário da restauração, adquiriu recentemente um espaço icónico da cidade, o Café Delfim, precisamente por ser louletano e pelo amor à sua terra, “e não tanto pela questão economicista e oportunidade de negócio”. “Era o último bastião louletano, o espaço onde encontrávamos toda a gente independentemente do estrato social e faixa etária. Isso é tão difícil de encontrar numa cidade hoje em dia e Loulé ainda tem essa magia”, considerou. Neste momento, o espaço está a ser alvo de uma profunda intervenção e espera-se que volte a ser ponto de encontro na cidade.
Não é louletano de nascença, mas já o é de coração. Sérgio Leite dirige o Conservatório de Música de Loulé «Professor Francisco Rosado» desde 2019 e, neste debate, falou do “poder transformador” para a cidade e para os alunos daquele que é o “o único Conservatório em Portugal continental e Ilhas que nasce público”. Com um trabalho com alunos dos 6 aos 18 anos, o Conservatório tem uma oferta que inclui a formação em 21 instrumentos e canto, o que poderá ter impacto para criar músicos profissionais na região, nomeadamente para dotar a Orquestra do Algarve de elementos naturais da região.
De uma infância vivida na Serra do Caldeirão, numa altura em que a eletricidade ainda aqui não tinha chegado, à vida adulta em Lisboa, a advogada e cronista Carmo Afonso destacou o facto de Loulé ser uma cidade “que sempre acolheu muito bem”. “Loulé é uma cidade que continua a ter lugar para toda a gente. Combina modernidade com raízes. Absorve quem está de passagem, absorve ventos novos, culturas, mas ao mesmo tempo continua ligado a uma raiz preciosa para a cidade”, notou.
E quanto ao futuro? A crise demográfica e a falta de habitação preocupam os participantes nesta mesa-redonda mas, por exemplo, o empresário Nelson Ponte acredita que Loulé tem todas as condições para ser “a capital do turismo do país”. Já Horácio Ferreira é da opinião que se deve dar um passo em frente e apostar no turismo religioso e na criação, em Loulé, de uma “Fátima pequenina”. Para Lídia Jorge, “desenvolvimento e identidade” estão de mãos dadas. A escritora reconheceu o trabalho coletivo dos sucessivos autarcas que foram acrescentando e que contribuíram para que Loulé seja hoje esta cidade. “É bom criarmos uma espécie de senadores da cidade, aqueles que deram o nome ao desenvolvimento”, disse. Na área cultural e da criatividade acredita haver aqui “matéria viva para se fazer algo grande”. No entanto considerou que existe uma lacuna: “Olhando para a vitalidade extraordinária falta-nos o espelho, falta-nos imprensa, mais comunicação, um canal de televisão, como de resto falta em todo o Algarve”, notou ainda a escritora louletana.
No 37.º aniversário da cidade de Loulé, ainda durante a manhã, o executivo municipal e convidados visitaram dois espaços do ABC na cidade: o Edifício Outreach (Rua do Cemitério), que integrará um laboratório de genética, banco de células do cordão umbilical, centro de investigação de entomologia e seroteca, e o Centro de Simulação Cirúrgica do ABC (Rua Quinta de Betunes). Para terminar, a comitiva teve a oportunidade de visitar o andar-modelo da Urbanização Clona, em Vale de Rãs, um dos principais investimentos da Estratégia Local de Habitação de Loulé. São 64 fogos que se encontram em faz de conclusão, num valor de 12 milhões de euros.
No 37.º aniversário da cidade de Loulé, ainda durante a manhã, o executivo municipal e convidados visitaram dois espaços do ABC na cidade: o Edifício Outreach (Rua do Cemitério), que integrará um laboratório de genética, banco de células do cordão umbilical, centro de investigação de entomologia e seroteca, e o Centro de Simulação Cirúrgica do ABC (Rua Quinta de Betunes). Para terminar, a comitiva teve a oportunidade de visitar o andar-modelo da Urbanização Clona, em Vale de Rãs, um dos principais investimentos da Estratégia Local de Habitação de Loulé. São 64 fogos que se encontram em faz de conclusão, num valor de 12 milhões de euros.