«His master voice» é uma expressão repleta de história e de grande impacto cultural. Originalmente, surgiu como um slogan publicitário da empresa de discos Gramophone Company, fundada por Emil Berliner no final do século XIX. O slogan foi popularizado pelo famoso logotipo da empresa, que apresentava um cão chamado Nipper a escutar a voz do seu falecido dono através de um gramofone. «A Voz do Dono» transcendeu o uso comercial e tornou-se parte integrante da cultura popular. Tendo sido mencionada em diversas obras literárias, filmes e programas de televisão, a imagem do cão a ouvir o gramofone evoca sentimentos de nostalgia, obediência e lealdade.
Numa sociedade cada vez mais estratificada, desigual e competitiva, o desejo de ter cada vez mais e assim poder subir mais rapidamente no elevador social faz com que muitos não tenham qualquer prurido em ir comer à mão de quem, sem nunca aparecer, detém o verdadeiro poder. Sem aqui querer deixar transparecer qualquer teoria da conspiração, porque afinal de contas só escrevo sobre aquilo que sei, fico a pensar em quantos «(desconhecidos) donos disto tudo» manietam, orientam e controlam aqueles que, ao abrigo da escolha popular, desempenham hoje cargos públicos. Longe de mim querer traçar qualquer paralelo ou analogia com alguns episódios políticos da realidade portuguesa. Vem-me apenas à memória aquele título da canção do Sérgio Godinho, «Isto anda tudo ligado».
No mundo corporativo contemporâneo, a busca por excelência e inovação como forma de atingir objetivos, sejam eles quais forem, é incessante. Para alcançar esses objetivos, os organismos públicos e privados recorrem frequentemente a profissionais que, a troco de atrativas e compensadoras remunerações, assessoram, aconselham e facilitam. São consultores, conselheiros e facilitadores que, sem formação específica para tal, se fazem valer da vasta e rica lista de contactos que possuem no seu telemóvel, da presença em determinados convívios onde trocam informações privilegiadas e do lobby constante em que transformam os seus dias. Embora as suas funções possam parecer similares, cada cargo tem um papel único e preciso no intricado xadrez jogado por quem, não dando a cara, pouca-vergonha tem na cara.
É verdade, os Consultores são especialistas em soluções, os Conselheiros são guias de sabedoria e os Facilitadores são catalisadores de mudança! À laia de desenrascanço, aconselho: jovens em início de carreira, agarrem as imensas oportunidades que as periódicas transformações sociopolíticas estão a trazer a futuros colaboradores, funcionários em part-time e avençados no ramo. São, comprovadamente, ocupações de futuro, basta fazer pouco alarde e «ajudar» quem melhor gratificar. Sigam assim a minha sugestão, mas não o meu exemplo, pois foi coisa que eu nunca fiz. Os meus conselhos e ajudas foram sempre concedidos «à borla». Atitude da qual não me arrependo, mantendo assim o orgulho e a satisfação de nunca ter tido a obrigação de falar pela cartilha da «his master voice». Escolhas de vida que nos moldam a existência!
Paulo Cunha é professor
Crónica publicada em:
Foto: Daniel Santos