É muito fácil destruir, mas, por vezes, impossível reconstruir.

Esta é aquela semana em que se conhecem muitos dados numéricos sobre a igualdade de género, a presença das mulheres em vários sectores da sociedade e em que se discute o caminho que já se percorreu na defesa da igualdade de direitos e aquele que ainda falta percorrer.

Como a última crónica versou sobre o assunto da liderança no feminino e sobre a igualdade de género e de oportunidades, resolvi que esse não seria o tema de hoje. Uma semana profícua em «factos» e «não factos», trouxe-me esta frase à cabeça ao longo de todo o dia – o poder da destruição – ao mesmo tempo que hoje tentava encontrar tema para escrever mais uma crónica, participei num pequeno-almoço inspirador dedicado ao empreendedorismo feminino no UAlg Tec Campus, com a presença de um número expressivo de residente estrangeiras no Algarve.

Curioso…a manhã desenrolou-se em amena conversa sem uma única referência à política nacional, mas esteve presente uma enorme preocupação com o ambiente internacional e uma elevada expetativa negativa sobre os conflitos mundiais em curso.

A frase remeteu-me nas minhas pesquisas para a obra sobre o Poder da Destruição Criativa, um livro de 2021, de Aghion, Antonin e Bunel, relacionado com a obra de Schumpeter, com prefácio de Carlos Moedas, que viria sobretudo alertar para o poder da destruição criativa, com a tecnologia a assumir o protagonismo principal.

Numa abordagem que hoje caracterizo de natureza mais filosófica, diria que a destruição criativa é uma força poderosa que tem impulsionado o capitalismo ao longo dos séculos. Trata-se do processo pelo qual indústrias e empresas obsoletas, que deixaram de ser lucrativas, são descontinuadas, permitindo que recursos como capital e mão de obra sejam realocados para atividades mais produtivas e inovadoras. Esse mecanismo é considerado um elemento central do capitalismo, funcionando como um motor do crescimento económico. Envolve o desmantelamento de práticas e estruturas antigas para dar espaço a novas ideias, tecnologias e métodos, promovendo a evolução constante da economia.

Até aqui tudo bem, pois se, por um lado, trazemos um motor de renovação e substituição, com os inerentes impactos que podem mais ou menos positivos ou negativos, por outro, reconhecemos a subsequente transformação neste processo como meio para alcançar um futuro melhor.

Todavia, nesta alusão à destruição em termos gerais, pode-se levantar uma reflexão: Será que a agressão e a destruição são inerentes ao ser humano, ou são produtos de circunstâncias sociais e históricas? A destruição em larga escala, como é o caso de guerras ou desastres nucleares, resulta quase sempre na perda de vidas, em sofrimento humano, na deslocação de populações e em danos psicológicos duradouros. Sabendo disto porque se prossegue neste caminho?

Vamos escolher bem

Os episódios políticos do momento, a voracidade do gatilho comentador, a raiva despejada nas redes sociais por detrás de identidades forjadas, com objetivos pouco explícitos apontam caminhos duvidosos. Nas redes sociais, um comentário destrutivo pode ser publicado em segundos, mas as suas consequências — como o assédio ou a difamação — podem durar anos e ser quase impossíveis de reparar.

Uma sociedade informada procurará ser equilibrada na análise da conjuntura e na interpelação de políticas e medidas a implementar.

A ambição de um mundo melhor, com paz, segurança e sustentabilidade é um objetivo a fazer cumprir, mas com respeito pelo outro, numa ambição construtiva, fundamentada em dados reais, ancorada na justiça social.

Num mundo onde a destruição parece muitas vezes mais fácil do que a construção, cabe a cada um de nós escolher entre ser parte do problema ou da solução. A educação, o respeito e a ética não são apenas ideais — são instrumentos principais para transformar o poder da destruição em força de renovação. Se queremos um futuro de paz, segurança e sustentabilidade, precisamos de agir com consciência, reconhecendo que cada palavra, cada ação e cada decisão têm o poder de construir ou destruir. A escolha é nossa. Vamos escolher bem.

Alexandra Rodrigues Gonçalves é Diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da UAlg

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