Ao celebrarmos o 13.º aniversário da AFA – Associação de Fado do Algarve, deparei-me com um texto que escrevi na altura e que serviu de apresentação daquela instituição ao público.

Ao constatar que pouco ou nada mudou (aspetos houve em que piorou), mantendo-se, portanto, atualizado, resolvi fazer deste a minha crónica desta semana.

“Falar sobre o fado é tarefa ingrata. Por muito que se diga falta sempre algo, há sempre outras interpretações. Falar do fado no Algarve é decerto ainda pior, pois não existe nenhuma resenha histórica ou qualquer compilação de fatos comprovados que permitam afirmar com segurança um trajeto, um percurso do fado na região algarvia. Porém, será unânime afirmar que este estilo musical tem nesta região sido acompanhado por todos, pois tem desenhado um papel importante na historiografia musical da região. Pode em boa verdade dizer-se que a história do fado no Algarve se divide em dois períodos: Antes e depois do aparecimento dos concursos de fado amador. Antes destes, o fado era representado por fadistas locais, tais como Tónia Silva, Estrela Maria, José Conde, Antonieta Guerreiro, Zé Portugal e Cremilde, a que se juntavam os lisboetas Renato Marques e Helena de Castro e a que se juntavam ainda outros que vinham a esta região, tais como Adelaide Rodrigues e João Mouro.

Com os fadistas estavam inevitavelmente os guitarristas locais, tais como Silvério de Sousa, Jonatas, Valdemar Ramos, Fernando Sousa, Hermes dos Santos, José Gregório, Guilherme Fragata e António Correia, ou ainda outros mais jovens como Flaviano Ramos, Vítor do Carmo, José Pinto e Valentim Filipe, e a que se juntavam outros que faziam aqui temporadas, tais como Jorge Franco e Carlos Oliveira. Havia nesse tempo dois campos principais de trabalho e que entretanto se perderam: Os hotéis e as casas de fado. Os primeiros enveredaram aos poucos por outro tipo de animação e só em ocasiões especiais acontece fado, e casas de fado, em boa verdade, não existe sequer uma única nesta região. Estranho na verdade, tendo em conta que a nível nacional e internacional o fado nunca foi tão mediático. Além de empresários locais, houve um tempo em que fadistas famosos como Rodrigo, Nuno de Aguiar, João Braga e outros chegaram a abrir casas de fado nesta região. Nestas situações era normal virem de Lisboa fadistas que cumpriam temporadas atuando todos os dias nessas casas. Celeste Rodrigues, Filipe Duarte, Maria João Quadros, João Casanova, Manuel de Almeida, Mende, Elsa Laboreiro, Carlos Barra e Rosa Maria, entre outros. Deve referir-se neste aspeto a cidade de Lagos, que chegou a ter cinco casas de fado em simultâneo a funcionarem diariamente.

Com o surgimento dos concursos de fado, sobretudo quando disputado por eliminatórias, um formato que entrou no gosto do público, novas vozes apareceram tais como as jovens Adriana Marques, Filipa Sousa, Isa Brito, Inês Graça, Sara Gonçalves, Teresa Viola, Luis Manhita, Vanessa Guerreiro ou ainda Raquel Peters e Pedro Viola, que depois de se cansarem de acumular prémios no Algarve, resolveram provar aos lisboetas que o fado não mora só em Lisboa, tendo ambos arrecadado o primeiro lugar em 2005 e 2006 na Grande Noite do Fado da capital. Por arrastamento outros mais velhos como Helder Coelho, Cecílio Santos ou Aurora Espada juntaram-se à onda que não deu só fadistas, mas também provocou o aparecimento de instrumentistas como os jovens Tiago Valentim, Ricardo Anastácio e Cláudio Sousa, entre outros. Vindos de outras áreas musicais, mas que no fado encontram motivação suficiente para aqui se transferirem, como José Santana, Tó Correia e alguns mais também para aqui se mudaram em definitivo”.

Treze anos se passaram desde que este texto veio a público pela primeira vez. Como disse no início e no geral mantém-se atualizado, mas houve algumas mudanças e não se pode dizer que tenham sido para melhor…m as isso são questões para uma outra crónica, quando voltarmos a esta matéria, como certamente irá acontecer.

Valentim Filipe, músico, professor aposentado e dirigente associativo

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