O concerto foi em dose dupla e com lotação esgotada, como se adivinhava. O louletano Nuno Guerreiro convidou o coletivo algarvio «Os Mau Feitio» (Ricardo Martins, João Palma, Vítor Bacalhau e Vasco Moura) e os Artistas de Minerva para dois concertos no Cineteatro Louletano, nos dias 30 e 31 de março, tendo como fio condutor Carlos Paredes, um dos nomes mais emblemáticos da história da música portuguesa.
Nas suas mãos, a guitarra portuguesa foi além-fronteiras, representando a nossa música e cultura de expressão popular. No entanto, também transcendeu o Fado ou a Canção de Coimbra. A música que criou foi, acima de tudo, música para guitarra portuguesa e da sua obra percebe-se que cada composição tem uma melodia nobre, altamente percetível e fácil de identificar. Talvez por isso tenha chamado a algumas das suas composições de «Cantos», como o Canto de Rua ou o Canto do Trabalho, entre outros grandes temas da sua autoria.
No âmbito das comemorações do centenário do seu nascimento, propôs-se um programa que visa mostrar a possibilidade de unir a sua música à poesia, mas também a ligação universal que o Mestre estabeleceu com vários estilos musicais, fossem eles portugueses ou não. Para além do Fado e da Canção de Coimbra, ou da música erudita, destaca-se neste contexto a influência que deu ao movimento da nova música urbana portuguesa que surgiu no final do século passado, com nomes como António Variações, Rodrigo Leão, Madredeus, Sétima Legião e Ala dos Namorados.
Esse movimento trouxe um som contemporâneo e português que desafiava o fado tradicional e a canção de Coimbra. Nuno Guerreiro faz parte desse movimento, é certo, com a Ala dos Namorados, mas foi nos concertos de Carlos Paredes, em Lisboa e no Porto, onde foi convidado, que acabou por ser descoberto e encontrou o caminho para o universo musical em que se encontra hoje. A sua homenagem ao Mestre é uma homenagem universal, no sentido em que, para além de algumas canções da sua autoria, que mais tarde vieram a ser cantadas com letras de grandes poetas portugueses, como Vasco Graça Moura ou Pedro Tamen, Nuno Guerreiro pretende evocar Carlos Paredes através de algumas das suas canções, mas também através de outras que o inspiraram a entrar neste universo da nova música urbana portuguesa.
Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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