The most exciting phrase to hear in science, the one that heralds the most discoveries, is not "Eureka!" (I found it!) but 'That's funny’...
Isaac Asimov
Leio esta frase no meu telemóvel: o robô perdeu o chão! Era mesmo o que me faltava. Comprei, por causa dos gatos, um desses robôs que aspiram (teoricamente) sozinhos. O meu sempre foi idiossincrático – aspira onde quer, passa 10 minutos no corredor e ignora os quartos ou decide ficar debaixo da minha cama por mais tempo, a ir e vir, talvez para garantir que não fica nenhum pelo no chão. Tem dias que limpa a cozinha ou se arrisca a entrar na casa de banho; prefere um dos lados da sala e passa a correr pelo hall. Já me disseram que eu devia programá-lo, mas me divirto com sua falta total de direção e de noção. Acho que foi feito para mim – era o último que restava na prateleira e arrisquei-me a trazê-lo. Os gatos ficam a olhar, meio espantados, mas não lhe fogem e, muito menos, sobem em cima dele para dar passeios pela casa. Ou bem os vídeos que mostram gatos sobre robôs são falsos, ou meus gatos são preguiçosos. Ou ambas as respostas estão certas. Quando o vejo a vaguear, penso que ele seria capaz de passar por humano quando, para provar que não é um robô, tivesse de identificar um objeto nas fotos. O seu modo randómico não é característico das máquinas. Ouvi um psicólogo francês, muito interessante, que dizia que comparar a inteligência humana à da máquina, e vice-versa, é uma generalização que não se deve fazer. Cada grupo humano tem suas idiossincrasias e a afirmação que é feita nesse sentido vem de um grupo de pensadores ocidentais. Assim, nem todos os humanos são iguais e, portanto, o seu funcionamento não se assemelha ao de uma máquina que foi criada a partir de biases. Dá que pensar. O que retiro dessa reflexão é que, às vezes, como os animais, as máquinas ficam parecidas com os seus donos. O meu robô, por exemplo, perde o chão. E lá tive de resgatá-lo, pois se encontrava encavalitado nos pés de um aquecedor sem saber o que fazer à vida. E sem encontrar seu chão.
Mirian Tavares é professora
Crónica publicada em:
Foto: Isa Mestre