A União Europeia negoceia neste preciso momento a aprovação de uma directiva para proteger os consumidores do tão falado «greenwashing» («lavagem verde»). Chama-se «Green Claims Directive» («Directiva das Reivindicações Verdes») e tem como motivo central para a sua génese o facto de existirem hoje centenas de selos de desempenho ambiental, tanto de produtos como de serviços, que geram uma profunda confusão e desconfiança junto do consumidor. Dados de um estudo conduzido pela Comissão Europeia em 2020 mostram-nos como são essas declarações verdes:
• 53% são tidas como vagas, levando a erradas interpretações;
• 40% não têm evidências de suporte;
• +50% apresentam fraco controlo ou mesmo ausência deste;
A ausência de um quadro normativo comum no espaço da EU leva a que o greenwashing actualmente prolifere e se criem falsas perspectivas sobre determinado produto e, paralelamente, situações de injustiça para com quem genuinamente aposte na sustentabilidade. A directiva, quando aprovada (espera-se que ocorra até final de 2025), irá impor regras e critérios de comunicação sobre as referidas reivindicações, bem como proibir aquelas que não estejam devidamente suportadas por evidências técnicas e científicas. E tudo levará a crer que haverá penalizações para os casos denunciados pela sociedade civil que não cumpram essas normas.
Contudo, até que tal venha a acontecer, o consumidor terá de questionar e procurar melhor informação sobre o que lhe é apresentado, correndo o risco de ser ludibriado pelas cada vez mais elaboradas campanhas ocas de marketing de produtos, serviços ou até de projectos. No Algarve, por exemplo, são cada vez mais vulgares os «eco-resorts», anunciados quase mensalmente, como se fossem o último grito da moda no que respeita a sustentabilidade.
A banalização da mensagem está, infelizmente, a levar-nos para uma cada vez maior desconfiança perante o que surge catalogado como «Eco» ou «Sustentável» e tal, invariavelmente, conduz a uma gradual descrença perante os reais problemas ambientais (e já agora, também culturais) e de quem realmente procura agir para os corrigir ou minimizar. É algo que deveríamos acautelar. Mas até que tenhamos uma ferramenta legal que permita um escrutínio e a obrigação de apresentar evidências das anunciadas reivindicações, vamos continuar a ser alvos de continuadas «lavagens verdes», em muitos casos oriundas de proponentes cujas pretensões de verde nada têm.
João Ministro é engenheiro do ambiente e empresário
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Mais informações: https://environment.ec.europa.eu/topics/circular-economy/green-claims_en