O Algarve, região turística por excelência, conta com 25 monumentos classificados com o estatuto de «Monumento Nacional», a que acrescem outros pontos de interesse, com classificações menos notáveis, mas, ainda assim, significativas, como sejam «Imóveis de Interesse Público» e «Imóveis de Interesse Municipal».
Cada vez mais o turista procura associar ao Sol e praia uma vertente cultural, a única que a região tem para oferecer fora da época balnear para o turista de classe média e um nicho de negócio que vai assumindo importância na época alta.
O aumento do grau de exigência de quem nos visita deveria forçar uma mudança de atitude por parte das autoridades relativamente à recuperação e manutenção do património classificado, o que, infelizmente, não acontece.
Focando-nos apenas nos sítios classificados como «Monumento Nacional», que deveriam constituir a «joia da coroa» da região, que, como adiantamos, se resumem a 25 monumentos espalhados por todo o Algarve, a esmagadora maioria está num estado lastimável, alguns completamente abandonados (como a Quinta da Nora e a Abicada), encerrados ao público (Ribat da Arrifana e Ermida de Guadalupe), ou em avançado estado de degradação (Igreja de São Sebastião de Lagos, Sé de Silves).
Numa visita recente à Sé de Silves encontramos vitrais partidos, altares riquíssimos a apodrecer, manchas de humidade, baldes a recolher água infiltrada pelas paredes e nos altares, recantos fechados a visita, como é o caso da capela do Gastão da Ilha, ou a da pia baptismal.
A Igreja de São Sebastião, que temos encontrado sempre encerrada, esperamos que esteja melhor preservada ao nível interior, do que a fachada exterior deixa adivinhar, sendo de longe o edifício histórico da cidade em estado mais lastimoso, quando deveria ser o melhor preservado.
Reconhecemos que o Estado tem recuperado alguns monumentos da região, com investimentos altíssimos, mas que se debatem posteriormente com uma falta crónica de manutenção permanente, vivendo os monumentos de ciclos de apogeu e declínio. Não basta recuperar, é preciso cuidar e manter.
Numa região turística, que gera receitas elevadas para o Estado e riqueza para o país, é inadmissível que o património cultural edificado, elemento diferenciador de outros destinos turísticos concorrentes, não esteja preservado, sejam os Monumentos Nacionais, os Imóveis de Interesse Público, ou os Imóveis de Interesse Municipal.
Uma parte da receita gerada pelo turismo, deverá, obrigatoriamente, ser canalizada para a recuperação e conservação do património cultural da região. A afetação de 1% do IVA turístico gerado no Algarve para a constituição de um fundo regional que faça a gestão do património não é nenhuma fortuna colossal se atendermos às necessidades da região, mas contribuirá seguramente para melhorar o cenário atual e potenciar o aumento de visitantes, não só no Verão, mas ao longo de todo o ano.
Nuno Campos Inácio é editor e escritor
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