Boris Skossyreff, «o homem que quis ser ´rei´ de Andorra e acabou ´mano-rei´ de Olhão em 1935», foi o tema do seminário que juntou, no dia 31 de março, especialistas portugueses e espanhóis no Auditório Municipal Maria Barroso, em Olhão. Para além de se aprofundar a vida do russo que teve uma trajetória incomum, o ponto alto do dia foi a estreia nacional do documentário sobre Boris, do realizador Jorge Cébrian.

O evento, organizado pela Associação de Valorização do Património Cultural e Ambiental de Olhão (APOS), contou com o apoio do Município desde a primeira hora, que valorizou a importância de se dar a conhecer uma personalidade com vários feitos extraordinários e que também deixou marcas em Olhão. “Boris Skossyreff era um homem sui generis, com uma história e personalidade intrigantes”, referiu o vice-presidente do Município de Olhão, Ricardo Calé, na abertura do seminário que também trouxe a Olhão a Ministra da Cultura de Andorra, Mónica Bonell, a embaixadora de Andorra em Portugal, Olga Gelabert, e o realizador Jorge Cébrian, para além de vários especialistas internacionais. Marcou igualmente presença, para além de autarcas do concelho, o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, José Apolinário, para quem “Boris foi um espírito rebelde, interventivo, muito como a história de Olhão”. “Este homem – Boris Skossyreff – nunca deixou de lutar por um mundo mais justo”, reconheceu Ricardo Calé, que diz ter aprendido muito por estes dias sobre o russo que fugiu da revolução soviética e viveu seis meses em Olhão, onde fez amizade com Francisco Fernandes Lopes, depois de ter sido expulso para Portugal.

“Este é um personagem com uma das vidas mais cinematográficas que podemos conhecer”, referiu, por sua vez, Mónica Bonell, a Ministra da Cultura de Andorra. Aliás, foi o governo de Andorra que patrocinou, em conjunto com várias entidades privadas, o documentário sobre Skossyreff. “Se houve um lugar onde Boris Skossyreff foi feliz, foi aqui em Olhão”, acredita a governante andorrana, dizendo que “foi aqui que Boris se encontrou, assim como ao seu refúgio de paz e tranquilidade”.

O filme, que também inclui passagens em Olhão, foi apresentado pela primeira vez no Festival de Cinema de Montreal, em novembro de 2024, e já foi adquirido por diversos canais de televisão de Andorra e Espanha, devendo o mesmo acontecer em Portugal. A distribuição em salas de cinema de Espanha terá início em setembro deste ano e, em Portugal, para já, foi exibido em exclusivo no Auditório Municipal Maria Barroso. Para António Paula Brito Pina, da APOS, “Boris não foi um homem exemplar, mas passou por grandes momentos da história do século XX”, destaca o médico e amante da história olhanense. “Skossyreff teve um triste destino depois de sair de Portugal, embora sempre revelando uma extraordinária capacidade de sobrevivência. Talvez por se lembrar deste interlúdio feliz em Portugal e particularmente em Olhão, ele continuou a escrever ao seu amigo Francisco Fernandes Lopes, sendo a última carta conhecida de 23 de julho de 1965, a anunciar a morte da esposa”, resume Brito Pina.

Aproveitando a visita de Mónica Bonell a Olhão, e à margem deste seminário, o vice-presidente do município olhanense, Ricardo Calé, reuniu com a governante de Andorra e com a representante da embaixada andorrana em Portugal. Entre outros temas, foram abordados a cooperação nos setores do comércio e do turismo, assim como o início de um intercâmbio cultural que proporcione “conexões interculturais enriquecedoras para ambas as comunidades”.