A semana passada decorreram as Jornadas Técnicas do IEFP no Serviço de Formação Profissional no Areal Gordo em Faro. Neste âmbito lançaram-nos o desafio de moderar a sessão dedicada à Sustentabilidade do Turismo do Algarve na relação com a gestão recursos hídricos da região, que será o mesmo que dizer dedicada à Sustentabilidade do Algarve.
Em particular a gestão dos recursos hídricos na região tem dominado a agenda política e técnica do último ano, apresentando vários desafios. Até há poucos meses o Algarve apresentava-se em seca severa e assumiam-se medidas drásticas de redução do consumo, sobretudo ao nível do turismo e da agricultura.
A necessidade de compatibilizar os diferentes usos da água, garantindo o abastecimento às populações e às atividades económicas colocou como urgente a definição de um conjunto de Medidas Estratégicas para o Algarve, o que incluiu:
- a modernização das infraestruturas agrícolas: Inclui a modernização dos blocos de rega em Silves, Lagoa e Portimão, e a conclusão do Aproveitamento Hidroagrícola do Alvor.
- a reutilização de águas residuais tratadas (ApR): Expansão da produção de água reutilizada nas ETAR da região.
- o reforço da resiliência do abastecimento público: Projetos de médio e longo prazo para aumentar a disponibilidade de água na rede pública, gerida pela Águas do Algarve.
- o uso de fontes alternativas de água: Análise de possíveis interligações e aproveitamento de diferentes fontes, incluindo água dessalinizada.
- e novas barragens: Estudo da viabilidade de construção das barragens da Foupana e do Alportel, para melhorar a gestão dos recursos hídricos e mitigar a escassez.
Estas medidas têm associados diferentes investimentos e prazos, sendo que os investimentos na região totalizam centenas de milhões de euros, com fundos provenientes de programas como o PRR e o PT2030. Os prazos para a execução das medidas variam entre 2024 e 2042, dependendo da complexidade e maturidade dos projetos.
O plano associado a estes investimentos integra a estratégia do governo «Água que une» e tem um pacote de mais de 485 milhões de euros de investimento para o Algarve, que visa garantir um abastecimento de água mais seguro e sustentável para a região, enfrentando os desafios da escassez através da modernização das infraestruturas, reutilização de água e novas captações.
O que todos questionam hoje é se, face à estabilização e melhoria dos níveis dos lençóis freáticos do Algarve, não deixará esta questão de ser prioridade. Ao que parece, no entanto, se há estratégia que tem estado a unir quase todas as áreas políticas e movimentos da comunidade é esta (com uma ou outra solução a ser mais ou menos do consenso).
Portanto, a sustentabilidade da região sem dúvida que continuará a incluir estas preocupações como prioritárias nos próximos tempos, até porque a história tem demonstrado que a seca é cíclica na região e com as alterações climáticas tenderá a agravar-se.
Nas intervenções dos oradores na mesa redonda predominavam as unidades de hotelaria, que incluíam campos de golfe, piscinas e jardins nas suas ofertas, mas também participou uma empresa que trabalha soluções de reaproveitamento de águas residuais e a Região de Turismo do Algarve, o organismo regional das políticas públicas do turismo.
O foco não se pode perder, pois é uma questão de Vida
A sensibilização dos consumidores – residentes e turistas – tem de ser a nosso ver uma prioridade diária para uma melhor utilização deste recurso escasso, assim como, a política pública tem de efetivar investimentos para reduzir ao máximo as perdas de água e uma reutilização maior das águas residuais, em particular ao nível municipal. Mas também se pode exigir mais aos vários privados – empresas e particulares –, dado que se comprovou que há investimentos com sustentabilidade e retorno no curto e médio prazo.
Muitas obras são debaixo da terra, avultadas e visíveis apenas no que provoca mais transtorno, mas são extremamente necessárias. Também as iniciativas como o selo Save Water (medida coordenada pela Região de Turismo do Algarve, com o Turismo de Portugal e com a ADENE – Agência para a Energia) devem ser alargadas e monitorizadas, com conhecimento público dos seus resultados.
Com a crescente consciencialização dos riscos das alterações climáticas e da necessidade de ação, assistimos a um aumento das preocupações, no entanto, continuam a existir lacunas e uma das identificadas prende-se com a falta de legislação e regulamentação para novos equipamentos e infraestruturas, que obrigue a medidas e sistemas preventivos na gestão eficiente e tratamento das águas.
Como leiga na matéria, a partilha de conhecimento do painel foi muito enriquecedor e desinstalou preconceitos e ideias erradas, até de demonização do turismo, nomeadamente sobre os consumos atribuídos ao sector do turismo e da hotelaria. O foco não se pode perder, pois é uma questão de Vida.
Alexandra Rodrigues Gonçalves é Diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da UAlg
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