Tenho um certo interesse pelo que se vai fazendo lá fora ao nível ambiental, nomeadamente no campo do planeamento e da regeneração urbana. É algo que pesquiso com regularidade em vários fóruns informativos, de debate e partilha, sobre estes e outros temas afins. A forma como muitas cidades europeias estão hoje a adaptar-se aos desafios climáticos e ambientais, bem como à crescente exigência por uma melhor qualidade vida dos seus habitantes, traduz-se em exemplos inovadores muito interessantes, curiosos até. Vejamos alguns deles.

Em Utrecht, Holanda, o município decidiu transformar 316 paragens de autocarros em verdadeiros spots de biodiversidade instalando coberturas verdes de forma a melhorar a qualidade do ar, absorver água da chuva, regular a temperatura e ajudar os polinizadores, como abelhas, borboletas e outros insectos. Além de melhorar a própria estética desses espaços, normalmente forrados a metal ou vidros com publicidade. Depois desta, outras cidades, em vários países, seguiram o mesmo exemplo. Mas a iniciativa não se esgota nas paragens de autocarros ou dos populares trams. O município atribui ainda ajudas financeiras aos cidadãos que queiram instalar coberturas verdes nas suas casas.

Em Valladolid, Espanha, outro projecto de combate ao desconforto térmico no espaço público está a acontecer. Com o objectivo de criar zonas de sombra verde («green shades»), o município, no seio de um projecto europeu, decidiu instalar coberturas verdes suspensas em várias ruas, especialmente naquelas que por serem muito estreitas não permitem a colocação de árvores. Estas estruturas aéreas consistem numas velas, feitas de um geo têxtil especial impregnado de substrato que permite o desenvolvimento de plantas sem necessidade de ali colocar terra. A rega é eficiente, com recolha e recirculação da água. Isto permite criar zonas de sombra, reduzir o impacto das «ilhas de calor», bastante comuns em cidades, e claro, melhorar a qualidade do ar.

Outro exemplo vem de Paris, cidade que se prepara para fechar 500 ruas à circulação rodoviária («car-free streets»), remover o alcatrão e plantas centenas de árvores. O objectivo é o que se adivinha: melhorar qualidade do ar, promover a mobilidade leve, criar zonas de lazer e usufruto do espaço publico, etc.

Por fim, um caso curioso vindo de Brighton, sul de Inglaterra. O município decidiu aprovar um regulamento que obriga os novos edifícios, com mais de 5 metros de altura, a instalar tijolos nas fachadas para atrair abelhas e ninhos artificiais para andorilhões. Os tijolos consistem nisso mesmo: um tijolo, mas perfurado na face exterior, com orifícios de diferentes diâmetros, de forma a permitir diferentes espécies de abelhas a se instalarem em seu interior e fazerem aí os seus ninhos. O objectivo é, naturalmente, ajudar na preservação destes insectos, extremamente importantes na polinização e que estão, como todos sabemos, sobre forte regressão em muitos sítios.

Muitos outros exemplos poderiam ser dados, mas estes bastam para que tenhamos uma ideia de como estão a evoluir muitas cidades por essa Europa fora. Por cá, infelizmente, as dinâmicas são ainda bastante «tradicionais». Continuamos a assistir à proliferação do alcatrão – que nos momentos prévios a eleições autárquicas tende a disparar – aos desbastes radicais de árvores, à ausência de espaços verdes dignos desse nome, ao já tradicional desordenamento urbano – bem como do espaço rural – ou de projectos eficientes e práticos de mobilidade leve. Não há sequer uma visão pragmática para as cidades perante o que já se sente nos dias que correm: excesso de calor, falta de sombras ou corredores verdes.

Devíamos estar a tornar as nossas cidades mais resilientes e preparadas perante os desafios actuais, sejam climáticos ou de preservação da biodiversidade, mas preferimos refugiarmo-nos em planos, estudos e estratégias, ricos em páginas e gráficos, mas cuja concretização pouco se vê. Ficam os exemplos para nos inspirarem.

João Ministro é engenheiro do ambiente e empresário

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