Após ser humilhado pelos meus filhos no jogo do «Uno» entre um bife descongelado, uma vela do Continente e uma caixa de gelados quase no limiar de uma overdose de açúcar, tive a epifania: os espanhóis voltaram a tramar-nos. Séculos de história, intrigas, guerras, tratados e «castelhanices» culminaram neste momento glorioso em que Portugal mergulhou, literal e simbolicamente, no escuro. Apagão ibérico, chamaram-lhe. Eu cá lembrei-me de acrescentar mais um capítulo do clássico intemporal: “De Espanha, nem bom vento, nem bom casamento… e agora nem eletricidade!”.

Desde que fui a Espanha e paguei 10 euros por uma cerveja. Fiquei com os filhos da mãe dos espanhóis atravessados na garganta. Os verdadeiros bárbaros do planeta, não são os alemães, são estes gajos que vivem aqui ao lado, os espanhóis. E não pensem que por andarem aparentemente quietinhos nos últimos 70 anos (até ao apagão) a malta se esquece do que andaram aqui a fazer desde os Reinos de Castela e Aragão. A malta hoje ainda se queixa da Al Qaeda, mas na realidade o que estes energúmenos fizeram ao longo dos tempos não anda muito longe dos fanáticos islamitas, senão, vejamos alguns exemplos. A realidade é que o povo alemão é um injustiçado: o facto de terem recentemente feito porcaria (da grossa) duas vezes seguidas, provocando guerras mundiais lixou-lhes a imagem de poetas, filósofos e músicos que conquistaram ao longo dos três últimos séculos.

Evitando utilizar linguagem que possa ferir suscetibilidades das duas ou três pessoas que perdem tempo a ler esta coisa. Relembro que os nossos vizinhos têm uma longa tradição de nos tramar, seja à paulada, à facada, ou agora, à tomada. Se Portugal é o cu da Europa, a Espanha é o seu membro fálico. Com ejaculação precoce.

Dizem que foi uma falha técnica. Uma pequena oscilação no sistema elétrico partilhado. Como se uma falha técnica explicasse 800 anos de má fé peninsular. A mim não me enganam. Isto foi mais um capítulo no manual castelhano de sabotagem subtil — um manual com mais páginas do que o testamento da rainha de Inglaterra e mais reviravoltas do que novela da TVI. Mas isto não é novo. Oh, se não é. Já devíamos ter aprendido com o passado. Mas Portugal, esse romântico incorrigível, continua a cair na lábia do vizinho que já nos deu mais facadas do que Judas em fase criativa.

Outros Blackouts históricos (sem eletricidade, mas com sangue)

A dada altura, decidem e desatam a chacinar os mouros, que já cá estavam antes deles, até conseguirem pô-los definitivamente fora da península. Tiveram azar na fruta quando uma lolita deu à luz um gajo que tinha a mania que havia de ser rei de alguma coisa e que acabou por fundar Portugal.

Exportaram-nos a Inquisição, o primeiro franchising europeu de tortura, vendido como quem oferece um McMenu com batatas a murro. Acabaram com a elite cultural do país, roubaram o dinheiro todo aos judeus e, num exercício de puro fanatismo religioso, desataram a queimar gente como se fossem velas num apagão. Nós, como país de cabotinos provincianos, quisemos copiar tudo o que vinha de Espanha (uma tradição que perdura até aos dias de hoje, se olharmos para a quantidade de franchises espanhóis que há espalhados por este país).

E em 1578? Mandámos o nosso D. Sebastião para Alcácer Quibir em troca de um regresso glorioso. Spoiler: não voltou. E quem aproveita o caos dinástico? Claro, os Filipes. Ocupam isto durante 60 anos, falam castelhano nas cortes e não investem um cêntimo. Portugal ficou numa espécie de autogestão. Em Olivença, ainda lá estão. Tomaram aquilo em 1801 e nunca mais devolveram.

No início do século XX, a guerra civil mais bárbara da Europa onde foi? Na Ucrânia? Na Palestina? Nãããã! Foi em Espanha, claro. Não só se dizimaram entre si como ainda deixaram os nazis ensaiarem táticas e maquinaria de guerra para fazerem porcaria no planeta uns anitos mais tarde. Graças aos nossos amigos espanhóis, o senhor(?) alemão de bigode ridículo aperfeiçoou formas de matar. Atualmente, compram as nossas laranjas, peixe, porcos e sabe-se lá mais o quê para venderem como se fossem deles… e nós (parvos) compramos.

Conclusão: Isto não foi um acidente. Foi um lembrete.

Para mim, não foi só a luz que se foi. Foi a paciência.

Nós até podemos ser um paraíso mal gerido e governado. Podemos andar de cinto apertado e até de rego à mostra. Podemos fugir aos impostos, porque todos fazem o mesmo. De ter Tony Carreira na voz e de dançar nos bailaricos em S. Bento, até porque quem dança seus males espanta e nós bem os precisamos de espantar.

E mesmo olhando para toda esta desgraça à nossa volta e achando, por vezes, que o patriotismo é uma treta (à semelhança de Jorge Jesus com o fair-play) dizemos com orgulho que somos de Portugal e ficamos ofendidos quando pensam que isto é uma província de Espanha. Isso é que não! É Portugal!

Portanto, da próxima vez que houver um apagão, não percam tempo a ligar para a EDP ou REN. Vão à varanda, gritem com orgulho, à janela, de peito feito e panela na mão:

“LEVAM-ME A ELETRICIDADE, MAS NÃO ME LEVAM A DIGNIDADE, COÑOS!”.

Júlio Ferreira é um inconformado encartado

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