Antes de iniciar a escrita deste artigo de opinião, debati-me com a decisão de o fazer ou não, pois de textos, considerados de autoajuda, está a internet e as prateleiras das livrarias cheias. Mas tendo em conta que assisto, cada vez mais, a um acicatar de ânimos no sentido de, publicamente, afirmarmos e impormos as nossas posições, seja de que índole forem, decidi com palavras (as minhas) «deitar água na fervura» e assim tentar contribuir para apaziguar relacionamentos.

Para podermos, convictamente, respeitar e aceitar os outros temos de nos aceitar tal como somos. Julgando as nossas ações, pensamentos e aparência, tornamo-nos muitas vezes os nossos piores críticos, causando-nos, inevitavelmente, baixa autoestima e ansiedade. Quando nos permitimos aceitar como somos, com todas as falhas, limitações e virtudes, começamos a cultivar uma relação mais saudável connosco e, consequentemente, com quem nos rodeia. É através dos erros que aprendemos, crescemos e tornamo-nos melhores. A aceitação reduz a necessidade de perfeição, permitindo-nos viver com mais leveza e autenticidade.

A aceitação, frequentemente subestimada e negligenciada, revela-se, a todos os níveis, fundamental para o desenvolvimento pessoal, emocional e social. Não basta sermos apenas tolerantes, conseguir aceitar significa respeitar e conviver com as diferenças, os desafios e até mesmo as imperfeições que existem em nós e nos outros. É, acima de tudo, um caminho para a harmonia e para a manutenção de relações saudáveis.

Interagindo numa rede social há mais de uma década, apercebo-me, cada vez mais, que pessoas que - livremente - aceitaram ser «amigas» umas das outras, acabam por não as aceitar como elas são. Aceitar não é a mesma coisa que concordar! Ler e respeitar as ideias e ideais dos outros não nos torna defensores nem apologistas das mesmas. Aliás, seria inconsequente e infrutífero querer mudar, através de comentários e opiniões instantâneas, a forma de estar e de ser que uma vida levou a construir e a moldar.

A aceitação dos outros envolve o respeito pelas diferenças e pela individualidade de cada pessoa. Num mundo tão diverso, é impossível esperar que todos compartilhem os mesmos valores, crenças ou comportamentos. Aceitar os outros como são é uma expressão de empatia e maturidade emocional. Isso não significa concordar com tudo ou tolerar comportamentos prejudiciais. A aceitação é, sobretudo, um reconhecimento de que cada indivíduo tem a sua história, os seus motivos e é fruto de diversas contingências. Essa prática favorece a construção de relações mais sólidas, baseadas na compreensão e no respeito mútuo.

A aceitação não é um ato passivo; pelo contrário, é uma escolha ativa que requer coragem, determinação e prática! Ao aceitarmos não estamos a desistir ou a acomodar, estamos sim a encontrar maneiras de lidar com as ocorrências da vida, de forma mais madura e sensata. Compreender a importância da aceitação pode transformar a maneira como vivemos, ajudando-nos a construir uma base sólida que promova o crescimento pessoal e fomente relacionamentos mais equilibrados. É uma prática que promove a resiliência, a inteligência emocional e o bem-estar.

Aceitar não é simplesmente tolerar, é também viver e comungar com a realidade, não invalidando que trabalhemos para melhorar o que pode ser mudado. Seja na relação connosco, com os outros ou com as circunstâncias, a aceitação é o alicerce para uma vida mais satisfatória e harmoniosa! É por isso que no respeito e consequente aceitação pelo «ser» de cada elemento da minha família reside o segredo para a desejável felicidade no meu lar. Espero que seja também o vosso caso. Se não, estais sempre a tempo de aceitar alguém que vos aceite como sois.

Paulo Cunha é professor

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Foto: Daniel Santos