Tive oportunidade de me deslocar, de propósito, a Sevilha para apreciar o concerto de Jean-Michel Jarre. Senhor que tem a idade que está no título.

Como ele, conheço outros com aquela idade e +. Fazem-me ficar com inveja já, ou medo daqui a quase 20 anos não conseguir manter qualidades físicas ou mentais que aprecio.

Foco, organização, método, criatividade e respeito pelas suas responsabilidades perante os outros como este e outros Senhores, fazem vincar e impor-se nas suas atividades.

Vibrante, dominando não só os instrumentos, mas deixando que os outros (nós) acompanhem o que está a fazer e como. Fazendo-nos por isso mais estranhos ao que consegue por estar na vanguarda do que faz e vai aperfeiçoando.

O palco e o recinto são projetados (acreditei) até Marte e é sucessivamente preenchido pela(s) sua(s) Arte(s) de modo que nem nos permite aplaudir, tal é a atenção que faz prender cada um de nós aos pormenores avassaladores e surpreendentes que uma pessoa, sozinha num palco e com uns «teclados».

Ao invés de se tornar um elemento no vazio, torna-se, ao contrário, um monstro da produção e interpretação orquestral com todos os instrumentos eletrónicos, visuais e sonoros que nos deixam tontos de admiração pelo ritmo e preenchimento do todo luminoso durante quase duas horas.

Conheço, como referi, outras pessoas, até com mais idade, que surpreendem pela memória, pela liderança, pela confiança no conhecimento que nos (e)levam a um nível superior.

No mundo da cultura, do turismo, da saúde, conheço e conheci profissionais, políticos, cidadãos comuns que me deixam atónito e fazem-me pensar que além das suas capacidades e cuidados consigo próprios, se outros, com a mesma idade tivessem acesso aos mesmos cuidados permanecessem ativos, nos surpreenderiam outro tanto ou ainda mais.

Os portugueses sãos dos que, agora, atingem maior longevidade, mas infelizmente, consoante progridem com sucesso nos seus aniversários, vão perdendo qualidade de vida e a saúde porque não conseguimos ainda dar-lhes a atenção e cuidados para a manterem, tais como as virtudes do SNS que está conseguindo aumentar os anos aos mais anos que já atingimos e ultrapassámos.

Este artista deixou-me surpreso e aos milhares que se deslocaram para assistir, numa capital repleta de calor e fiquei «soterrado» por, só no mesmo local (Praça de Espanha), durante estes dois meses se sucederem, desde há 5 anos consecutivos, grandes eventos que fazem deslocar a Espanha até lá milhares de turistas de toda a Europa (e não é pela praia que não têm).

Basta ver as variações de preços do alojamento. A animação «fora de horas», as empresas que se associam e consorciam para apoiar as organizações e o respeito pela língua e seus atores/interpretes locais sempre e acima de tudo, misturados com tantos outros de renome mundial.

 Penso que a nossa região, ora anda para a frente ora volta atrás e nunca mais mantem uma política de promoção turística e cultural e de eventos com impacto consistente que os agentes culturais, turísticos e públicos compreendam e possam acompanhar.

Só o Moto Clube de Faro teimosamente (e não me lembro de mais), com os seus próprios recursos, é reconhecido nacional e internacionalmente por todos saberem o que faz e quando faz, sempre, todos os anos, em Faro.

Nesta mistura de temas na mesma crónica quero afinal marcar uma linha comum: somos bons, conseguimos fazer e atingir objetivos fantásticos em pouco tempo, mas inconstantes na sua prossecução.

Temos dos melhores profissionais, dos melhores e mais experimentados cidadãos interessados, mas pouco valorizados.

Sim, dos melhores exemplos de desempenho para o mundo, mas ficamo-nos a meio das tarefas mais importantes. Não conseguimos decidir e quando decidimos não mantemos e voltamos para fazer outra coisa qualquer.

Os Jean-Michel Jarre fazem-nos compreender que além do talento, do saber, é preciso manter a surpresa para quem nos faz ser importante. Ser persistentemente o melhor e continuar a progredir para se ser o que faz movimentar, ao nosso encontro, as outras pessoas por desejo, necessidade ou utilidade no que fazemos na diferença entre os demais.

As marcas e empresas unem-se por interesses a outras que as fazem ser ainda mais e mais bem notadas. Se fazemos algo que é importante devemos manter e melhorar de forma teimosa até a perfeição se tornar um hábito e surpreender sempre até que nos olhem (ao nosso destino, à nossa cultura, ao nosso património), com o desejo de saber o que mais acontecerá aqui da próxima vez.

Orgulho e afirmação. Temos produto pois temos valores naturais e humanos que fazem com que sejamos, décadas a fio, um caso de sucesso, mas temos mesmo de ser sempre melhores ou passaremos a ser apenas recurso.

Eu gostava de trazer cá os Jean-Michel Jarre para os da mesma idade (e +) surpreenderem e fazerem inveja aos da minha idade e mais novos, do que somos todos capazes, porque «velhos são os trapos».

Cansado e revigorado ao mesmo tempo. Cuidemos de nós.

Paulo Neves é um «ilhéu», mas nenhum homem é uma ilha

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