Por força das minhas novas funções profissionais, passo dias da semana no que tem sido «o olho do furacão» do turismo do Algarve. Aliás, um dia por semana, pelo menos, sou mesmo vizinho na rua (da Oura) de Albufeira que tem estado nas notícias.

Já desde 1992, com a construção da mais de centena de casas para jovens, que ganharam o prémio nacional de promoção cooperativa e depois com a inscrição no Orçamento de Estado, que promovi na Assembleia da República, da Marina de Albufeira e ainda depois com a inauguração do Hospital do Lusíadas, ligam-me a Albufeira laços da maior afetividade (como a Portimão, a Lagos, Loulé e Pechão) só superados pela minha cidade de Faro.

Sobre o turismo de Albufeira, e porque interessa para este artigo, importa destacar o trabalho com a Eng.ª Valentina Calixto, o Dr. Luís Patrão, por iniciativa do Dr. Sérgio Palma Brito e meus colegas na RTA, o Dr. Luis Pinto, Fátima Catarina e Hugo Nascimento, com o presidente da Câmara Municipal de Albufeira Arsénio Catuna, de propor (aprovado) o programa Polis para Albufeira na sequência das ações para a regeneração urbana, que visitamos, em Calvia-Baleares (agenda XXI).

Portanto, depois desta declaração de interesses, assumo as dificuldades e o impacto negativo da imagem (e barulho) etc. nos investimentos hoteleiros que são circundados pelos bares. Não preciso esclarecer mais.

Mas também não sou distraído, sobre o momento, a repetição dos casos e mesmo o «renascimento» da memória dos mesmos que abrem as notícias e agora são usados nas campanhas eleitorais, associados, de quando em vez, aos momentos que interessam aos destinos concorrentes e/ou agentes que fixam preços na oferta, também não são meras coincidências.

Mas lá que os casos e o «caos» existem, existem. Vão existindo apesar dos novos Regulamentos Municipais e esforço policial e de alguns agentes económicos.

Além de se tomar uma rua «pelo todo», esquecendo que Albufeira tem locais (simplesmente) de nota máxima na qualidade internacional e outros locais que se estão agora a (re)afirmar como surpreendentes ao nível da captação de novas marcas de nível superlativo, fazem-nos pensar como resolver e ultrapassar este(s) caso(s) bem delimitados.

Tem sido este o meu último desafio íntimo. Nem vou perder tempo a relatar causas, nem culpados, ainda menos repetir sobre os riscos e impactos negativos no destino Albufeira-Algarve.

Assim, de frente – aquela rua proporciona receitas disparatadas aos exploradores da mesma. Falo de todos e de todo o género (inversa às dos hoteleiros que não queiram desistir do seu modelo de negócio…, evidentemente).

Não acredito que os empresários vão desistir do seu negócio fantástico que atrai milhares e milhares de consumidores ávidos de «animação» até altas horas.

Também não é possível manter aquele estado de coisas por mais tempo. Mas desistir de uma solução? Nem pensar.

Além das conversas e apelo ao diálogo do costume, penso que todos temos que assumir as nossas responsabilidades. Um espaço público que já foi de grande notabilidade urbanística, há 15 anos atrás, pode ter uma nova vida.

E conhecemos, sem prejuízo e com muito menos problemas para os empresários, assim com maior benefício para o destino e envolvente local-regional, outros modelos de exploração dos espaços privados e de conciliação com o interesse dos demais e assim como das cidades, sem tanto ruído, insegurança, lixo e desconsideração pelo urbanismo.

Com menos gente e muito mais gastos.

Vamos voltar às Baleares (e outros destinos) que viveram as mesmas dificuldades e «renasceram» pela positiva?

Temos que assumir.

De há anos que o estado de coisas vem piorando. A autarquia tem de continuar os esforços, com maior ritmo, envolvimento e autoridade, lançando opções e normas que motivem à mudança, a bem.

Com os próprios envolvidos, ou de outra forma com quem não cumpra a lei e o respeito pelos direitos dos demais que somos todos no Algarve. Não vou aqui «passar receitas», mas ofereço-me (pro bono) para ser parte, com outros, na procura e desenho das soluções.

Paulo Neves é um «ilhéu», mas nenhum homem é uma ilha

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Foto: João Neves dos Santos