Numa era em que a transformação digital avança a um ritmo alucinante e o ecossistema empreendedor português fervilha de inovação, os holofotes começam a virar-se para além dos habituais centros urbanos.

Enquanto Lisboa e Porto se afirmam como palcos de grandes eventos tecnológicos como o Web Summit, uma revolução silenciosa ganha força no coração do país. O interior, outrora visto apenas como um refúgio de tradição, emerge agora como uma nova fronteira para o crescimento, oferecendo um solo fértil para startups que procuram, não só escalar negócios, mas também redefinir o seu conceito de sucesso.

Esta dinâmica é impulsionada por várias organizações sem fins lucrativos, constituídas maioritariamente por voluntários, que trabalham ativamente na dinamização do interior de Portugal, com o objetivo de promover o desenvolvimento económico e social.

Existe uma crescente a colaboração entre instituições de ensino superior, autarquias e centros de inovação regionais, criando verdadeiros polos de talento e conhecimento fora das grandes cidades. Novos programas de incentivos públicos, aceleradoras e incubadoras espalham-se pelo território, proporcionando apoio técnico, acesso a redes de financiamento e oportunidades de networking para empreendedores que, até há pouco tempo, se viam forçados a migrar para os grandes centros. Setores com forte ligação ao território, como a agricultura, artesanato, energias renováveis, turismo sustentável e saúde digital, encontram no interior português um laboratório vivo para testar modelos de negócio.

Apesar dos avanços, persistem desafios de relevo que limitam o crescimento das startups no interior. Entre os principais obstáculos estão o acesso restrito a investimento, a escassez de oferta habitacional para arrendamento, carências nas infraestruturas digitais e nas vias de comunicação, bem como uma rede de transportes públicos limitada. Estes fatores dificultam, não só a atração, mas também a retenção de talento e o desenvolvimento sustentável das novas startups. Diante deste panorama, torna-se fundamental implementar políticas públicas robustas e fomentar parcerias estratégicas entre entidades públicas, privadas e do sector social, promovendo um ecossistema verdadeiramente competitivo, inclusivo e capaz de valorizar o potencial do interior português.

Investir em programas de capacitação, eventos de networking e aceleração de projetos permitirá não só atrair novos empreendedores, mas também fortalecer aqueles que já operam nestes territórios, promovendo um ciclo virtuoso de desenvolvimento sustentável.

O interior de Portugal encontra-se num momento crucial para se afirmar como um destino de inovação e empreendedorismo. As oportunidades existentes podem ser catalisadoras de transformação económica e social duradoura, desde que acompanhadas de uma visão estratégica e de um compromisso coletivo com o desenvolvimento regional. O futuro das startups nacionais pode, cada vez mais, passar pelo interior, onde tradição e inovação caminham lado a lado rumo a um novo ciclo de desenvolvimento.

Fábio Jesuíno é empresário

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