Agora que navego pelo mundo da distribuição alimentar em Portugal, observo outra dimensão da atividade económica algarvia. O verão já chegou e os desafios renovam-se.
Quem trabalha no setor sabe que o Algarve no verão é um território de oportunidades, mas também de grande exigência. A explosão da procura, impulsionada pelo turismo, obriga as empresas a operar no limite da sua capacidade - logística, humana e estratégica. Este é o momento em que os erros mais se pagam e em que a organização interna se revela um fator decisivo.
A gestão de armazém e de stocks é fundamental para otimizar e maximizar as margens, a análise do mercado, equipas capacitadas e softwares de gestão podem contribuir para mitigar riscos. Este equilíbrio entre planeamento e agilidade é essencial: prever volumes, ajustar encomendas, evitar ruturas ou desperdícios e garantir entregas no tempo certo pode significar a diferença entre uma época rentável ou um verão problemático. Apostar em sistemas de gestão inteligentes, capazes de fornecer dados em tempo real e apoiar decisões operacionais, é hoje um investimento indispensável.
Neste contexto, a inteligência artificial (IA) pode desempenhar um papel transformador, onde algoritmos preditivos, sistemas de IA e ferramentas de machine learning permitem, por exemplo antecipar picos de procura, otimizar rotas de entrega em tempo real, e contribuir para uma melhor gestão de stocks ao longo do tempo. Ao integrar estas tecnologias, as empresas tornam-se mais ágeis, mais assertivas e mais preparadas para responder aos desafios do verão.
Mas a logística no Algarve tem ainda outra camada de complexidade: o clima. As altas temperaturas no Algarve são um desafio, o armazenamento e o transporte deverão ser monitorizados, equipas formadas e tecnologia para uma rentabilidade das rotas são fundamentais. Em dias de calor intenso, a manutenção da cadeia de frio torna-se crítica, especialmente em produtos frescos ou ultracongelados. A falha de um equipamento, um atraso numa entrega ou uma má organização do percurso podem comprometer a qualidade de um produto e, com isso, a relação com o cliente final.
A rentabilidade das rotas – ou seja, a capacidade de entregar mais, em menos tempo e com menos custos – depende de decisões bem estruturadas: definição de zonas de entrega, planeamento de horários fora dos picos de trânsito, integração entre plataformas de pedidos e o backoffice logístico. Nada disto é possível sem equipas preparadas, conscientes da importância de cada etapa e com competências ajustadas ao terreno. A formação contínua e a comunicação interna são, por isso, peças-chave.
A contratação de pessoas representa outro desafio. O verão não é apenas mais uma estação – é, para muitos negócios, o período onde tudo acontece. Recrutar à pressa, sem critério, é um risco comum, mas perigoso. Num mercado onde a mão de obra escasseia, a aposta tem de estar na antecipação e na preparação: criar equipas mistas entre efetivos e sazonais, definir processos claros de onboarding, e garantir que todos conhecem os standards de qualidade exigidos. As pessoas são o maior ativo de qualquer empresa, mas no setor alimentar são também a linha da frente na prevenção de erros.
Por isso, o apoio técnico é mais do que uma formalidade: é um pilar de segurança. Uma empresa de consultoria no HACCP pode ser um aliado do empresário se o foco for na solução e conhecer o contexto. É essencial que os consultores conheçam o terreno, acompanhem as equipas, estejam disponíveis para apoiar em tempo real e ajudem a criar rotinas que vão além do “cumprir a legislação” - contribuindo ativamente para uma operação segura, eficaz e sustentável. Este tipo de parceria é especialmente valioso em pequenas e médias empresas, onde a gestão diária já absorve grande parte da atenção dos empresários.
O que tenho aprendido com esta experiência é que a distribuição alimentar, sobretudo num território como o Algarve, exige mais do que resiliência: exige visão, processos e conhecimento. O verão traz consigo um stress operacional inevitável, mas também uma oportunidade para testar modelos, corrigir falhas e consolidar boas práticas. Quem o encarar como uma época de sobrevivência estará sempre em desvantagem. Quem o encarar como um momento estratégico, pode sair do verão mais forte, mais preparado – e com melhores resultados.
Com processos, inteligência e pessoas certas, é possível não só enfrentar os desafios, mas superá-los com confiança e ambição.
Luís Matos Martins é CEO da Pisabell – Soluções Alimentares
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