Nos últimos anos, a política portuguesa tem-se rendido a uma fórmula perigosa: «Não há alternativa». Este slogan — consagrado por Margaret Thatcher com o acrónimo TINA (There Is No Alternative) — foi importado para justificar o imobilismo, a resignação e a falta de reforma estrutural em áreas fundamentais para o futuro do país.

Mas será mesmo verdade? Será que não há alternativas para os problemas crónicos da saúde, da educação e da habitação? A resposta é clara: há sempre alternativas e outros países com realidades semelhantes provam isso mesmo.

Em Portugal, milhares de alunos começam os anos letivos sem professores a todas as disciplinas. A resposta política tem sido: “não há professores”, “ninguém quer dar aulas”, “os salários são o que o país pode pagar”. Ou seja, um discurso TINA típico, que naturaliza o declínio.

Mas vejamos o que outros países fizeram. A Finlândia enfrentou também a escassez de docentes, mas respondeu com valorização salarial, formação contínua e reconhecimento profissional. Hoje, o professor é uma das profissões mais prestigiadas do país.

Nos Países Baixos criaram incentivos específicos para atrair professores para zonas urbanas críticas, com complementos salariais, habitação subsidiada e programas de mobilidade profissional.

Em Portugal optámos por empurrar o problema com a barriga, através de concursos burocráticos, salários desajustados e desgaste profissional. O resultado? Um sistema em erosão, que afasta os melhores e condena os alunos a menos oportunidades. E aumenta a desigualdade social, avariando o elevador social.

Nos centros de saúde e hospitais portugueses, acumulam-se utentes sem médico de família, apesar de slogans municipais a informar que todos os utentes têm médicos de família, e listas de espera para consultas e cirurgias. A resposta habitual: “não há médicos suficientes”, “não podemos competir com o setor privado”, “temos de fazer mais com menos”.

Mas vejamos, a Noruega apostou em contratos atrativos para fixar médicos em regiões carenciadas, com incentivos salariais, redução de carga burocrática e apoio à qualidade de vida familiar. Em Espanha, regiões como Navarra e País Basco integraram médicos estrangeiros formados localmente, com processos de reconhecimento céleres e programas de residência bem estruturados.

Em Portugal, por contraste, formamos médicos com excelência, mas os expulsamos para o estrangeiro ou para o setor privado devido à precariedade, sobrecarga e desvalorização no SNS. A fuga de profissionais não é uma inevitabilidade, é uma consequência de decisões políticas.

Em Portugal vivemos uma crise de habitação sem precedentes. Os preços das casas e das rendas subiram muito acima dos salários médios. E o discurso oficial repete-se: “é o mercado”, “não se pode contrariar a procura”, “não há capacidade do Estado para fazer mais”.

Mas isto é falso. Veja-se, em Viena, onde 40 por cento da população vive em habitação pública ou cooperativa de qualidade, com rendas acessíveis e estabilidade habitacional. Isso foi possível com investimento público consistente e regulação inteligente. Os Países Baixos mantêm um setor robusto de habitação social (cerca de 30 por cento), com rendas limitadas e mecanismos eficazes de mediação do mercado.

Em Portugal, a habitação pública representa menos de 2 por cento do parque total. Os apoios ao arrendamento são precários e intermitentes. E as regras para o alojamento local e a especulação continuam frouxas. Não é por falta de alternativas, é por falta de decisão. Porque decidir é difícil e envolve escolhas.

O que estes três exemplos têm em comum, educação, saúde e habitação, é a forma como foram capturados pela retórica da TINA. Não há professores, nem médicos, nem casas. E não se pode fazer nada.

Mas a verdade é outra: existem sempre alternativas e os países que as procuram com seriedade e visão estratégica, colhem os frutos. A democracia exige debate, opções e responsabilidade. Governar não é aceitar o «possível» como destino, é alargar o campo do possível com coragem e imaginação. Quando os decisores dizem que “não há alternativa”, estão apenas a dizer que não querem ou não sabem fazer diferente.

Portugal precisa de reformas estruturais, mas, acima de tudo, precisa de abandonar a ideia de que está condenado a repetir os erros. O futuro constrói-se com escolhas. E é tempo de voltar a fazê-las. Pensem nisto.

Carlos Manso é Economista e Membro da Direção Nacional da Ordem dos Economistas

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