Habituamo-nos a viver para atingir sempre os máximos. Máximo de visitantes. Máximo de participantes. Máximo de inscritos. Máximo de festivaleiros. Máximo de dormidas. Máximo de chegadas. Máximo de contributo para o PIB. Máximo de créditos habitação. Máximos e mais máximos. De preferência consecutivos e sempre no sentido ascendente. Parece que não temos mais outra ambição a não ser a de querer bater recordes, mesmo que, no essencial, tal não traga consigo uma real melhoria na qualidade de vida das pessoas ou impactos positivos no território. Isso, aparentemente, não interessa. É secundário. Até porque, na verdade, esses números aparecem de tal forma que não são escrutinados. São e basta. Quem tentar perceber o que significam esses «máximos» ou ouse questioná-los, são alcunhados como «os do contra», fundamentalistas ou anti-desenvolvimento. Já alguém leu uma notícia sobre uma qualquer festarola de verão, daquelas promovidas por municípios, por exemplo, cujo comunicado pós-evento diga “houve menos participantes”? Ou que “procurou-se reduzir os participantes, mas melhorar a qualidade da oferta”? Nunca vi tal. Mas admito poder estar desatento.

Nos casos mais célebres destes recordes, veja-se o revelado há dias, sobre o histórico contributo do Turismo para o PIB nacional. Sem querer retirar mérito à notícia e ao sucesso em si, a pergunta que me surge é: à custa do quê? Mão-de-obra barata? Impactos nocivos do foro ambiental? A exemplo, veja-se o que se passa com a incapacidade das regiões em processar a quantidade de resíduos produzidos durante o verão, como recentemente foi noticiado no Algarve.

Outro bom exemplo é o que vem da venda de casas e do preço das mesmas. Novo máximo foi atingido em Portugal no segundo trimestre de 2025. Certamente uma excelente notícia para alguns. Mas para muitos outros, uma realidade pouco animadora, para não dizer mesmo dramática. Como consequência temos uma miríade de graves situações a acontecer na região, nomeadamente a descontrolada proliferação de casas de madeira, contentores e barracas por esse barrocal fora.

Em vez de celebrarmos máximos e recordes supérfluos devíamos sim, celebrar objectivos concretizados com reflexos directos na qualidade de vida das populações, na boa gestão territorial e dos seus recursos, na criação de economia local sustentável ou no de colmatar das fortes assimetrias regionais que hoje tanto sentimos.

Mas nem tudo é mau. Há exemplos que inspiram ou deviam inspirar. Veja-se o Fundão que, em final de ciclo autárquico, fixou milhares de jovens qualificados e várias empresas tecnológicas, implementou uma política de sucesso na inserção de imigrantes – valendo-lhe mesmo um reconhecimento internacional – apoiou as actividades primárias e culturais, e posicionou aquele território para o futuro. Sem grandes alaridos. Sem grandes recordes e nunca procurando máximos.

Máximo seria se mais autarcas houvessem com a mesma visão e capacidade de trabalho e execução.

João Ministro é engenheiro do ambiente e empresário

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