Estamos a menos de 90 dias da eleição direta do Presidente da República Portuguesa. Sublinho direta pois que, em outros países democráticos, a mesma é realizada através de colégios eleitorais constituídos por outros políticos, portanto, de forma indireta e sem a participação nem a escolha dos eleitores.

Sem discutir da menorização do papel PR neste quadro de dependência, prefiro colocar o ponto de apreciação sobre a personalidade, a confiança, sobre quem exerce um poder unipessoal, de eleição, por todos nós. Sim, a responsabilidade dos eleitores é, afinal, a de escolherem o perfil certo, de entre os candidatos, para tão elevado cargo.

Se escolheram um carácter de frenesim político, tiveram «um jogador» em vez de um moderador do executivo que detém efetivamente poder no quotidiano das nossas vidas. Se optarem por um homem de negócios, o que terão é um influenciador por quem lhe pagou o sucesso que o trouxe à notoriedade e lhe permite disputar a eleição, intrometer-se ou contemplar o executivo que lhe é próximo. Enfim, está na moda esta confusão no poder. Se preferirem um desconhecido, pretensamente austero, pois jogarão nas surpresas do dia seguinte e é o que terão – surpresas. Certo que, quando convivi com a logística da Covid não me fez compreender superlativas qualidades. Claro que também podem as minorias contra o sistema optar por fazer eleger um Presidente desestabilizador ativo do funcionamento das instituições. Não vale a pena o voto.

A beleza da escolha é que conhecemos os perfis e temos a responsabilidade de decidir quem representará a nossa República (em que a soberania reside no Povo). Prefiro manter, para mim, para cada um de nós, essa responsabilidade da escolha.

Não é novidade que apoio António José Seguro, em confiança da sua personalidade e percurso, independentemente das opções do partido a que aderi. Precisamente um dos pontos fortes de Seguro é o de, afinal, não ter dependido de um partido para decidir e afirmar-se como candidato, podendo ter o distanciamento em relação aos vários atores, sejam da oposição, seja do poder executivo sem ser da sua confiança partidária e, portanto, distanciar-se da moderação e papel que a magistratura presidencial lhe confere por maioria de razões e de equilíbrio institucional.

A personalidade não é exuberante, mas para quem o conhece é de pessoa sinceramente empática, interessada e bem-disposta. De bem com a vida e as opções que tomou.

Ao tempo da liderança de José Sócrates, e ainda assim, apostou na reforma do sistema parlamentar, no funcionamento e condições de exigência fiscalizadora da Assembleia e dos Deputados eleitos, face ao Governo com tanto sucesso que essas medidas de fundo perduram.

Disputou lideranças com António Costa, de tal forma que, antecipando o seu mandato, até promoveu o mais amplo exemplo de participação na vida interna dos partidos, permitindo a escolha do seu líder através de simpatizantes além dos seus militantes (não me lembro de tal ter sido repetido depois). E, sim, isso catapultou o PS, em confiança, para as eleições pós-troika.

E, sim, o maior exemplo de discernimento e responsabilidade, durante a troika, aquando da decisão irresponsável e surpreendente da apresentação da demissão irrevogável do então vice-primeiro ministro, ter cedido à tentação de fazer o PS ocupar o poder.

Aliás, a admiração internacional pelo clima político interno num momento de ajuda externa (mesmo com medidas que foram levadas para além do exigível), deve-se muito ao seu papel persistentemente moderador. Ainda nos lembramos da sua expressão ao PS: - «Qual é a pressa?». A resposta ainda hoje ressoa internamente dos que a tinham. É o poder acima de tudo.

Também a sua decisão de se manter calado, que não afastado ou desinteressado da vida pública (falo em causa própria), durante estes 10 anos, deram-lhe uma experiência que nenhum outro tem – Viver como Um de Nós.

Dependendo apenas do seu trabalho privado e assumindo as suas origens, dão-lhe um estatuto, independência e, ao mesmo tempo, relação com a comunidade, que é quem o vai escolher que nunca outro teve por opção própria. Se não for escolhido, lá o encontraremos nas aulas, na vindima, ou no turismo do interior e em mais que deseje como qualquer português e não se sentirá diminuído, nunca.

António José Seguro emprestará ao cargo de eleição direta, a normalização do sistema semipresidencial, de eleição direta, com a sua maneira de ser ponderada e construtiva, com o parlamentar que bem conhece das reformas implementadas por si. No quadro internacional, goza do lastro do seu contributo para o respeito pelos políticos portugueses. E, seja enquanto Deputado Europeu, seja enquanto membro do Governo com António Guterres, a experiência dos meandros de decisão e ação são-lhe reconhecidos.

Eu reconheço, por maioria de razão, pois que coincidiu com a minha eleição como deputado e várias vezes participei em iniciativas que conduziu para conciliar diversos interesses, competências e as melhores opções no interesse de todos.

Sim, Seguro é a melhor individualidade em presença nesta campanha que se avizinha.

Paulo Neves é um «ilhéu», mas nenhum homem é uma ilha

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Foto: João Neves dos Santos