Duas maravilhosas lendas de Faro (que também as tem), dizem respeito à imagem do santo no Arco da Vila e a dois episódios principais: um, o milagre contra a peste e, outra, a dificuldade em colocar a imagem no seu nicho.

A primeira, durante um surto de peste, a população pediu a interseção do santo padroeiro da cidade, e a praga foi impedida de entrar.

A outra, posteriormente, quando o Bispo do Algarve (1789 a 1816) Dom Francisco Gomes de Avelar encomendou uma imagem vinda de Itália, esta não conseguia ser elevada ao nicho do arco. A lenda conta que o Bispo sussurrou algo à imagem, após o que a estátua foi facilmente colocada no seu lugar, no Arco da Vila que o referido prelado havia mandado desenhar e construir, ao Arquiteto Fabri e que tanto marca a cidade e a região.

O padroeiro da cidade, São Tomás de Aquino, é a figura à qual terá sido sussurrado para se deixar levitar[1] até ao nicho do famoso pórtico. Esta imagem é mesmo a única que Faro tinha para apreciação, ainda assim, de forma longínqua e na distância entre a calçada do jardim até ao cimo daquele monumento nacional.

Estando nós «sempre em dívida» com o nosso padroeiro, agora, foi colocada outra imagem em tela, autorizada pelo Bispo Dom Manuel Neto Quintas, na antiga capela do Paço Episcopal[2].
Opção tomada no 25.° aniversário da sua eleição Episcopal, que se comemorou em setembro, decisão de que não se deu nota pública considerando o momento eleitoral então em curso.

É, portanto, também a nossa[3] singela oferta ao nosso Bispo, coincidindo com os 800 anos que se comemoram sobre o nascimento do Padroeiro da cidade (1225), que também é o patrono dos livreiros, editores, dos químicos, dos estudantes e das universidades.

Sim, na terra em que editou o primeiro livro impresso em Portugal, há a coincidência (?) de ser o mesmo padroeiro a quem se dedica tais obras e a proteção da cidade.

Até ao dia 28 de janeiro (Dia de S. Tomás de Aquino), tentaremos enriquecer ainda mais aquele espaço onde está presente o fac-simile do referido livro (O Pentateuco) em hebraico e dos instrumentos, equipamentos e químicos que terão sido usados para a sua impressão por um judeu farense, além da pedra cuneiforme, do monge copista e demais história da imprensa.

Mas, atentemos em alguns acontecimentos maiores que nos são próximos e contemporâneos do nosso Padroeiro, nascido em 1225 - A tomada de Faro (1249); o acordo com Alfonso X, para que o reino do Algarve fosse integrado na coroa portuguesa com os Tratados de Badajoz (1267) e de fronteiras, em Alcanizes (1297). Tomás de Aquino faleceu em 1274. Acham poucas coincidências?

É neste contexto que renovamos os cumprimentos ao nosso Bispo Dom Manuel Quintas, libertos agora de menção política de ocasião, pelos 25 anos de tolerância religiosa, também cultural e de inclusão que tem dado prova em atos além do que seria expetável.

Sim, sei da sua ação com outros líderes religiosos, muito além da igreja católica, do diálogo ecuménico com outras expressões cristãs e ainda, além disso com outras religiões como do judaísmo e mesmo outros dirigentes e organizações que professam a fé de forma diversa.

Pessoalmente, a um conhecido jacobino, não teve dúvidas, ao conhecer das intenções do grupo heterogéneo que interpretava, de ceder mesmo a chave da sua casa para receber e ajudar a promover a história e identidade de outros vultos que marcaram o Algarve e o mundo, como Samuel Gacon e a respetiva bíblia judaica (Pentateuco 1487[4]), impressa no prelo de (outro judeu) Gutenberg (1455).

Faro e o Algarve são ricos de personalidades eclesiásticas que acrescenta(ra)m muito à nossa história e identidade. Também à melhoria espiritual e acrescentam na solidariedade dos bens que organizam para apoio comunitário a quem precisa.

Dom Manuel, mais do que qualquer político, deve ser «o algarvio» que melhor conhece as estradas, caminhos, povoações e gentes de toda a região nas sua inúmeras visitas pastorais. Mesmo os não crentes reconhecem-no.

Obrigado Dom Manuel Neto Quintas e a toda a Diocese.

Paulo Neves é um «ilhéu», mas nenhum homem é uma ilha

Crónica publicada em:
REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #503 by Daniel Pina - Issuu

[1] Durante a sua missão, em vida, testemunhos apontam que viram Tomás de Aquino em levitação rezando perante o altar.

[2] Capela que foi já destruída e reabilitada, pelo menos, três vezes. Pelo Conde de Essex (1597), pelo terramoto (1755) e, ainda, na implantação da República e utilizada para ginásio da Marinha. Em 2017, com Dom Manuel Neto Quintas, foi reabilitada para instalar o Núcleo da Difusão do Conhecimento da Imprensa e de Gutenberg.

[3] Círculo Teixeira Gomes – Associação pelo Algarve; Ibn Qasî Associação; Fundação das Comunicações; Sul, Sol e Sal e, onde estiver, o nosso Manuel de Brito (talvez a cogitar em novas edições algarvias com o Padroeiro). Entre muitas personalidades e mecenas.

[4] Cuja reedição do fac-simile foi apresentado, na sua presença em ato de grande celebração pública, no Seminário Diocesano de S. José.